Cardiologista ressalta "ótima evolução" e afirma que jogador volta a ter rotina no clube, mas retorno aos campos vai depender da sequência de tratamento
Apesar de estar liberado para retornar às atividades do dia a dia no Vasco, Everton Costa ainda não sabe se pode voltar ao futebol profissional. O médico cardiologista Gustavo Gouveia, que acompanha o caso do atleta desde a arritmia que o jogador sofreu em campo há seis meses, disse que a evolução do quadro do jogador será acompanhada minuciosamente a cada semana. Acompanhado do médico do Vasco, Clóvis Munhoz, Gouveia lembrou que Everton é o primeiro atleta profissional a usar desfibrilador no Brasil. Mas citou estudos internacionais que apontam 300 atletas em todo o mundo, com 60 no futebol, sem nenhum óbito em todo esse tempo.- Talvez em quatro ou seis semanas vamos ver se ele vai progredir nesse início, depois, com isso, poderíamos fazer mais alguns exames e ver como estão as coisas. Mas vai depender muita da evolução dele - disse o cardiologista, reforçando ser impossível no momento dizer se Everton volta a jogar ou não.
- Difícil dizer na medicina, com certeza, sobre a chance de voltar (a jogar), não voltar. Vamos fazer tudo da forma mais segura em todo esse processo de recuperação. Vamos torcer que tenha o progresso que todos desejamos, mas nesse momento não está liberado para jogar. Está liberado pra voltar a atividade física leve.
Cabisbaixo, Everton Costa assiste às palavras dos médicos
(Foto: Raphael Zarko / Globoesporte.com)
Acompanhado
da esposa, Neiva, o jogador, que preferiu não dar entrevistas,
acompanhou a coletiva de imprensa na sala cedida ao clube no Centro de
Futebol Zico. Os médicos elogiaram o comportamento de Everton durante
todo o processo, o que dá mais esperança de um final feliz para o caso
do jogador. Gustavo Gouveia fez questão de dizer que a decisão pela
continuação do tratamento e a esperança ainda pelo retorno ao futebol de
Everton se baseou num consenso entre outros médicos cardiologistas e
também nos estudos sobre casos semelhantes em todo o mundo e na
literatura médica.- O Everton está acompanhando todo o processo muito bem. É uma pessoa e um atleta espetacular. Não saiu de nenhuma recomendação que demos, aceitou tudo, entende perfeitamente a situação, entende o que ele precisa antes de pensar a voltar, para a segurança dele próprio. A gente sabe que por ele estar se sentindo ótimo, por ele já estava de uniforme de treino. Mas não pode ser assim. Ele tem que ir devagar porque é o que tem de mais seguro - afirmou o cardiologista.
Médico Gustavo Gouveia explica situação de Everton Costa ( Raphael Zarko / Globoesporte.com)
Confira abaixo a íntegra da entrevista do cardiologista de Everton Costa:Liberado para atividades leves
Todos estão familiarizados com o que aconteceu com o Everton. Mas quero começar falando uma frase que talvez vá terminar com ela também. Neste momento, não está liberado para voltar a jogar futebol. Nesses seis meses teve ótima evolução, não teve arritmia, ficou assintomático, ou seja, sem sintomas, se sentiu normal nesses seis meses. Ele tem um desfibrilador que monitora o ritmo cardíaco, com isso temos certeza que não tivemos arritmia, isso fez com que liberássemos para fazer atividade física leve, junto com a fisiologia do Vasco, com Clóvis (Munhoz) e comigo. Como vai se comportar com atividade física leve, dentro da academia, do departamento de fisiologia do Vasco, com esforço leve. Ao longo dos dias e das semanas, vai ser avaliado e vai aumentar de acordo como ele se comportar. Isso seria assim mesmo que não tivesse nada no coração, ele perdeu condicionamento aeróbico, muscular, vai fazer retorno leve e vai ser monitorado. Se se comportar muito bem e mostrar que pode ir aumentando, vamos fazendo isso com toda segurança. Ao longo desse período, vai ser avaliado. A volta dele aos campos não tem data, não está definida, não sabemos se vai acontecer. No momento, não sabemos. Isso vai depender das próximas semanas. Isso é decisão não só nossa, mas de outros profissionais que cuidaram do Everton nesse tempo, uma equipe grande, que foi consenso de vários médicos, baseado na experiência e na literatura médica, levando em conta que antes de atleta é ser humano. Temos que ter toda a consciência possível para que nada aconteça.
Quanto tempo de observação?
Vamos avaliar semanalmente. Talvez em quatro ou seis semanas possamos ver quanto ele progrediu nesse início. Então vamos fazer alguns exames e vai depender muito da evolução dele mesmo. Nesse tempo, a evolução foi ótima. Não teve nenhuma arritmia nesse tempo, o coração contrai bem, não tem déficit de função, foi uma evolução bem favorável.
Chances de retorno
Difícil dizer na medicina com certeza sobre a chance de voltar (a jogar), não voltar. Vamos fazer tudo da forma mais segura em todo esse processo de recuperação. Vamos torcer que tenha o progresso que todos desejamos, mas nesse momento não está liberado para jogar. Está liberado para voltar a atividade física leve. Demos esse prazo inicial de seis meses esperando que evoluísse como evoluiu e que então voltasse a fazer atividade física. Poderíamos ter recebido a notícia, através de exames, de que em dois meses ele tivesse passado por outra arritmia, mas não aconteceu.
Estudo de caso
Existem inúmeros jogadores no mundo fazendo atividade física com desfibrilador. O maior estudo desse caso mostra que são quase 300 atletas, desses, 60 jogam futebol. Segundo esses estudos, nenhum paciente morreu com desfibrilador. (O estudo) dá uma segurança que não tinha até pouco tempo atrás. Vários outros atletas no mundo estão fazendo atividade fisica com desfibrilador. Aqui no Brasil não tem nenhum caso de atleta com desfibrilador.
Programação especial
Por ser uma situação nova, estamos conversando bastante com o clube, o tempo todo estou em contato com o doutor Clóvis Munhoz (chefe do departamento médico do Vasco), ele (Everton) está tendo acompanhamento psicológico e vamos seguir essa programação para uma experiência inicial. Ele terá um tratamento na fisiologia do clube, junto com Paulo Figueiredo, ele será o responsável por essa progressão semanal. Ao final de cada semana será reavaliado por toda equipe para ver como se comporta para então seguir em frente.
Melhor quadro possível
De certa maneira é possível dizer isso por esses seis meses de acompanhamento. Porque não teve nenhum tipo de arritmia, o que era o pré-requisito para discutir a possibilidade dele voltar a jogar futebol. Nos exames todos o coração dele se comportou muito bem, continua com ecocardiograma normal. Melhor evolução possível está aqui.
Contestação na literatura médica
Não diria críticas (de colegas do meio), mas certamente tem muitos colegas que de cara decretariam o fim de carreira do Everton. "Ah, botou desfibrilador, é igual a parar de jogar". Medicina para se ter certeza é muito difícil. Muitos cardiologistas com todo nosso respeito pensam diferente, mas inúmeros outros colegas que não pensam igual a gente. Essa é uma decisão compartilhada com outros colegas, não só daqui do Brasil, não só de quem cuidou do Everton, opiniões da literatura médica. Temos dados de literatura bastante contundentes de que é possível sim paciente com desfibrilador ter atividade física.
Semelhança com caso de Washington?
A semelhança é filosófica apenas, mas o problema é totalmente diferente. Muitas pessoas acharam que ele deveria parar também, mas outras, inclusive quem cuidava dele, achava que era possível jogar.
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