sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Fifa proíbe investidores no futebol



O presidente da Fifa, Joseph Blatter, anunciou nesta sexta-feira na sede da entidade, em Zurique, que será proibida a participação de investidores nos direitos econômicos de jogadores de futebol.

- Tomamos uma decisão muito firme, no sentido de proibir a participação de terceiros. Mas vamos criar uma comissão e dar um prazo para o mercado se adaptar - declarou Blatter.

Instado a dar mais detalhes sobre o assunto, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, afirmou que o período de transição deve ser "de seis a oito janelas de transferência" - ou seja, de três a quatro anos.

- O que é certo é que vamos banir a presença de terceiros, de investidores. Até março vamos definir o período de transição - declarou Valcke.

Na prática, a Fifa quer que apenas clubes sejam donos de direitos econômicos de jogadores. Há ainda muitos pontos a serem discutidos pela comissão da Fifa que cuida do caso.

A forma mais comum de burlar a proibição é por meio de "clubes hospedeiros", os "times de empresário" - aqueles que na prática inexistem, mas servem para que um jogador seja registrado e então emprestado a um time maior, uma vitrine.

Os "hospedeiros" já estão na mira da entidade. Por meio do TMS (Transfer Market System), a Fifa já identificou um clube uruguaio e dois argentinos que registraram a compra de atletas por um valor e a venda em curto período por valores muito superiores.

A entidade que manda no futebol mundial aplicou multa de 50 mil francos e a proibição de atuarem em duas janelas de transferência. Os próximos alvos são os "hospedeiros" brasileiros.

O período de três a quatro anos serve para que o mercado se adapte. Os clubes brasileiros hoje são dependentes desse tipo de financiamento - um estudo da KPMG mostra que 80% dos jogadores brasileiros são fatiados entre clubes e "terceiros".

Como este blog mostrou mais cedo, sete clubes da Série A procuraram recentemente o mesmo investidor para pedir dinheiro emprestado. Em troca, oferecem pedaços de seus jogadores, principalmente das categorias de base.

O fim da presença de investidores nos direitos econômicos de jogadores é uma vitória da Uefa sobre o terceiro mundo. Na véspera do anúncio, o presidente da Uefa, Michel Platini, disse a este blog que a única solução possível era "banir, banir".

Por outro lado, seus colegas sul-americanos eram bem mais cautelosos. O presidente da Conmebol, Juan Angel Napout, disse que o ideal era "regular". O mesmo discurso foi adotado pelo presidente eleito da CBF, Marco Polo Del Nero.

Minutos depois de a decisão ter sido anunciada por Blatter, Michel Platini voltou a criticar a presença de terceiros (chamadas assim porque não são nem clubes nem jogadores) no mercado do futebol.

- Isso era necessário para mantermos a transparência e a integridade do jogo - declarou o francês, por meio do Twitter da Uefa.

No Brasil, a decisão foi recebida com cuidado.


- A fragilidade financeira dos clubes de futebol no país é que faz com que as negociações de direitos econômicos sejam tão relevantes. Caso os clubes estivessem em boa situação, não haveria temor quanto a proibição - analisou o advogado Eduardo Carlezzo, especialista em direito esportivo internacional.

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