sexta-feira, 26 de abril de 2019

Demora do VAR nos estaduais é três vezes maior do que em jogos fora do Brasil; veja os números

Demora do VAR nos estaduais é três vezes maior do que em jogos fora do Brasil; veja os números
O tempo perdido com o VAR chamou a atenção em parte dos jogos em que o recurso foi utilizado no Brasil. No total, foram 39 partidas com árbitro de vídeo em sete estaduais: 14 pelo Paulista, 10 no Carioca, seis no Mineiro, três no Gaúcho, três no Catarinense, dois no Baiano e um no Cearense.

O Espião Estatístico* entrou na discussão e analisou todos os jogos dos times da Série A nos estaduais e os separou em duas categorias: jogos sem e com VAR. O primeiro bloco, com 238 partidas, teve duração média de 1h35min28s. Já o segundo, com 39 partidas, teve uma duração média de 1h38min27s. Ou seja, um acréscimo médio de três minutos.

Pode até parecer pouco a princípio, mas o padrão internacional é de um minuto. Em dados colhidos na experiência de dois anos que a Fifa fez antes da aprovação definitiva do VAR, baseado em 800 partidas de 20 competições internacionais, o tempo médio de acréscimo nas partidas com uso do VAR foi de sessenta segundos (Veja o vídeo completo abaixo, em inglês).

Outro exemplo são os números da temporada 2017/2018 do Campeonato Italiano e da Copa da Itália. O tempo médio do uso do VAR naquela temporada foi de um minuto e 22 segundos. No total, foram 117 decisões alteradas com auxílio do árbitro de vídeo na competição - uma decisão a cada 3,29 jogos. O número é semelhante ao divulgado pelo International Board (no vídeo acima): uma a cada três partidas.

Porém, a intervenção do VAR tem sido mais ativa no Brasil. Pelo menos nas primeiras experiências dos jogos dos estaduais. Aqui, o árbitro de vídeo mudou a decisão do campo em 19 das 39 partidas (49%).

Para o comentarista de arbitragem Sandro Meira Ricci, do Grupo Globo, a alta intervenção nestas partidas vem da quantidade maior de lances interpretativos analisados. O protocolo da Fifa estabelece que o VAR busque corrigir erros claros, aqueles que não dependam de interpretação ou aqueles que a absoluta maioria das pessoas interpretariam da mesma forma. De acordo com Sandro, faltou treinamento para capacitar os árbitros de forma adequada à tecnologia.

- Habilitaram quase 200 árbitros e bandeiras e fizeram quatro cursos de capacitação de VAR. É muita gente para pouca capacitação. Deveriam ter perdido menos tempo com habilitação e investido mais tempo em capacitação, principalmente com testes offline que simulam bem a realidade de um jogo.

Explica-se: o teste offline reproduz a mesma realidade da cabine do VAR, mas sem a comunicação com o campo. Na Itália, por exemplo, foram feitos 60 jogos offline do campeonato italiano antes de se utilizar o VAR oficialmente.

Jogos e lances polêmicos do VAR nos estaduais
Como dito anteriormente, 39 partidas dos estaduais contaram com a tecnologia neste ano. No Brasileirão, a previsão é que todos os 380 jogos tenham árbitro de vídeo, o que seria a maior utilização do VAR em uma competição no mundo. Para superar o desafio, a CBF terá de aproveitar os erros e acertos do uso prévio nas competições estaduais.

A principal reclamação até aqui vem de alguns lances que interrompem o jogo por longo tempo. O lance que mais retardou uma só partida de uma vez foi o pênalti de Guilherme Parede, do Internacional, em cima do lateral Bruno Cortez, do Grêmio.

No total, foram nove minutos e oito segundos de jogo parado até a autorização para a cobrança do penal, batido por André. O lance provocou a ira dos colorados que partiram para cima do árbitro Jean Pierre Lima. D'Alessandro e o técnico Odair Hellmann foram expulsos da decisão, que terminou com triunfo do Grêmio, nos pênaltis.

VAR é acionado e juiz valida pênalti de lance em Cortez, aos 24 do 1'T

No Campeonato Mineiro, as duas finais foram marcadas por polêmicas do VAR. O jogo de ida foi o quarto mais longo de 2019, com 1h44min02s. Nesta partida, a principal atuação do árbitro de vídeo veio na anulação correta do gol de Fred por toque no braço. O jogo de volta, no entanto, ganhou capítulos à parte por conta da quantidade de interrupções na partida para auxílio do VAR. Foram 10 no total, cinco no primeiro tempo e cinco no segundo. Apenas uma, porém, foi analisada na beira do campo (o pênalti a favor do Cruzeiro por toque no braço de Leonardo Silva).

Leandro Bizzio Marinho na final entre Cruzeiro e Atlético-MG — Foto: Reprodução/Globo
Leandro Bizzio Marinho na final entre Cruzeiro e Atlético-MG — Foto: Reprodução/Globo


O jogo parou 10 vezes para se avaliar: um pisão de Geuvânio em Dodô, um possível toque no braço de Dedé na área, um possível pênalti de Léo em Leonardo Silva, um pisão de Edílson em Ricardo Oliveira, um possível pênalti de Rodriguinho em Geuvânio, uma possível agressão de Henrique em Elias, um possível pênalti em cima do zagueiro Léo, um possível pênalti de Dedé em Ricardo Oliveira, uma possível agressão de Ricardo Oliveira em Henrique, pênalti de Leonardo Silva por toque no braço.


Ainda pelo Mineiro, dois lances pararam suas respectivas partidas por um tempo considerável. No jogo de ida da semifinal entre Boa Esporte e Atlético-MG, a partida ficou parada durante cinco minutos e 32 segundos por conta da expulsão de José Welison. No outro duelo, no jogo de volta entre Cruzeiro e América-MG, foram cinco minutos e 17 segundos para anular o gol de mão de Felipe Azevedo.

Pelo Baiano, os jogos da final também marcaram negativamente o uso do VAR pela demora excessiva da análise de lances. No confronto de ida, o jogo ficou paralisado por cinco minutos e sete segundos em função da expulsão de Gabriel Bispo, do Bahia de Feira, pelo segundo amarelo. Na partida de volta, o árbitro Luiz Flávio de Oliveira foi até a tela na beira do gramado para assinalar pênalti em cima do garoto Ramires, do Bahia. No total, cinco minutos e cinco segundos de paralisação.

Outro jogo que vale menção é o duelo de volta do Paulistão entre Palmeiras e São Paulo, por conta da anulação correta do gol de Deyverson, por impedimento. Felipão cogitou até retirar o time de campo por conta da invalidação do gol palmeirense.

 — Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO CONTEÚDO
— Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO CONTEÚDO

A partida com maior duração entre os jogos com VAR foi o Fla-Flu da semifinal da Taça Rio. No total, foram 1h44min29s de jogo. Marca quase 10 minutos maior do que a média dos jogos sem VAR. Os exemplos são inúmeros, portanto. Para Sandro Meira Ricci, o argumento de a tecnologia ainda ser nova e em fase de adaptação não serve muito porque a solução vem no treinamento, o que ele avalia que faltou.

Na sua visão, esse tempo médio dos estaduais vai permanecer no Brasileiro deste ano e o tempo médio da duração dos jogos com árbitro de vídeo vai diminuir conforme a maior operação do recurso no futebol brasileiro.

Para finalizar, veja o tutorial dos lances que o VAR pode entrar em ação nas partidas:
Tutorial VAR - como funciona o árbitro de vídeo — Foto: GloboEsporte.com

Tutorial VAR - como funciona o árbitro de vídeo — Foto: GloboEsporte.com


*A equipe do Espião Estatístico é formada por: Caio Tatesawa, Guilherme Maniaudet, Guilherme Marçal, Leandro Silva, Roberto Maleson e Valmir Storti.

Nenhum comentário:

Postar um comentário