sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Solta a voz! Jefferson revela ter corrido risco de morte, rechaça adiar aposentadoria e mira 2019

Solta a voz! Jefferson revela ter corrido risco de morte, rechaça adiar aposentadoria e mira 2019Jefferson caminhava para um fim de carreira triunfal e tranquilo. Em seu último ano como profissional, já tinha título conquistado (estadual) e a meta de ser um dos três que mais vestiram a camisa do Botafogo atingida.

Porém em mais uma edição do clássico que lhe ajudou a consolidá-lo como um dos maiores alvinegros da história quase deu a vida pela Estrela Solitária. E não metaforicamente. Ao tentar evitar gol de Lucas Paquetá em 21 de julho, na derrota por 2 a 0 para o Flamengo, o atleta de 35 anos correu risco de morte no choque com o rival, segundo o próprio revela. A contusão na traqueia o deixou com voz rouca, prejudicou sua respiração, mas não o parou. Na primeira entrevista pós-lesão, o ídolo afirma que o rápido socorro evitou o pior.

- No começo, estava muito ansioso para voltar, achava que era uma simples lesão, tanto que no jogo eu tentei voltar. Fiquei cinco minutos e não consegui. Até meu médico chegar e falar numa das consultas: "Vou te mostrar passo a passo o que aconteceu para você ver a importância de se recuperar". Ele disse com as seguintes palavras: "Jefferson, você tem que agradecer muito a Deus, porque você poderia até ter morrido naquele episódio ali" - revelou.

Jefferson recebeu o GloboEsporte.com em sua casa — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com
Jefferson recebeu o GloboEsporte.com em sua casa — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com

Imortal na história alvinegra e forte fisicamente, inclusive com mais massa muscular do que tinha antes da contusão, Jefferson não mudou de ideia em relação aos planos de se aposentar. O "gostinho de quero mais" após mais de dois meses sem atuar não rolou. Tem a expectativa de ainda jogar em 2018, treina com bola ainda nesta semana, mas para em dezembro. E isso é inegociável.


- Minha carreira no Botafogo, graças a Deus, foi muito positiva, vitoriosa, com muitos títulos e conquistas. Vejo futebol como oportunidades, são crescentes e desde 2010 que a gente vem alcançando grandes objetivos no Botafogo. Títulos, brigamos pelo Brasileiro, mas nos últimos três anos as coisas não têm saído como queríamos. Depois da lesão (no tríceps do braço esquerdo, sofrida em 2016) foi bem complicada a volta. Foi uma lesão muito rara, aí realmente perdi muitas oportunidades, até mesmo na seleção brasileiro, e isso realmente acabou me desmotivando um pouco.

Sequelas da contusão sofrida em julho: voz e respiração
A última lesão no jogo com o Flamengo também foi complicada, raramente acontece no mundo do futebol. Tive a pancada, até hoje tenho a sequela. Se eu for falar o dia todo, no fim do dia já estou sem a voz. Isso ainda vai mais alguns meses. Isso me prejudica nos exercícios físicos, porque fico ofegante muito rápido. Em outras palavras, poderia ter acontecido algo bem pior naquela lesão se o tratamento não fosse tão rápido.

Trabalho com bola ainda nesta semana
Estou em fase de recuperação, creio que daqui a pouco já estou mexendo com bola para terminar o ano bem. Já voltei a fazer a parte aeróbica. Como fiquei um mês e meio parado, tem a parte física e depois a gente vai entrar com a parte técnica.

Já deve treinar com trauma, se jogando nas bolas?
A tendência agora é forçar muito a parte aeróbica e respiração, até para poder fazer trabalhos intensos com o grupo.


Explicação da contusão
Teve uma lesão na traqueia que realmente me prejudicou até a respirar. Se fosse só nas cordas vocais, seria tranquilo. Realmente muito rara. Tinha um mínimo para respirar. Se você vir a pancada, fechou tudo. Não conseguia nem respirar.

Aposentadoria mantida
Mantenho. Fiz questão de avisar isso até mesmo antes do ano, até para não ter especulações dependendo de como eu poderia chegar no fim do ano. Poderia chegar com título, poderia chegar jogando ou não. Já tomei essa decisão antes, independentemente do que viesse acontecer. Já estou certo de poder seguir outros rumos.

Medo de encerrar a carreira sem jogar em 2018?
Minha ideia é poder voltar, fazer mais jogos nesse fim de ano e ajudar o Botafogo. Não pensar na minha carreira pessoal, porque, graças a Deus, já consegui o que eu almejava. Agora a intenção é ajudar o Botafogo a escapar da zona do rebaixamento e, se Deus quiser, conquistar a Sul-Americana.

Mas eu não penso em encerrar em mais um jogo. Minha carreira já foi muito bonita, independentemente do que acontecer daqui para frente. Sou muito orgulhoso do que já fiz pelo Botafogo.

Jefferson conversa com a reportagem em sua casa — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com
Jefferson conversa com a reportagem em sua casa — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com

Não pensa em despedida nem mesmo caso você não se recupere a tempo de jogar em 2018?
Não faço essa pressão, acho que seria injusto da minha parte fazer essa pressão em cima de mim, até por tudo que já me doei ao Botafogo e por tudo que já deixei de fazer pela minha família e por mim mesmo. A intenção agora é ajudar. Se eu puder terminar o ano ajudando em campo e fora dele, para mim é suficiente.

Depois que o médico falou em risco de morte, qual foi a sua reação?
Foi onde que eu pensei: "Opa, o negócio foi mais sério do que eu pensava". Aí realmente dei uma recuada. E, com ele mostrando, vi que foi uma coisa muito grave. Se eu paro de respirar ali, era coisa de segundos. Ele disse: "Você escapou de duas coisas: risco de morte e cirurgia. Se você precisa fazer cirurgia, seriam sete meses sem falar".
Quando ele me liberou para fazer o trabalho aeróbico, fiz o trabalho na academia e a esteira. Mas vi que não estava recuperado. Sempre depois dos exercícios, eu via que fechava. Por isso, agora estou fazendo mais com calma para a lesão não voltar.

Chegou a pensar por exemplo "Pronto, me aposentei, não vai dar mais para voltar" ?
Pensei, pensei sim. Eu acho que seria muito injusto me cobrar nessa reta final por tudo que já me doei pelo clube. Até o Botafogo está entendendo minha situação, fala para eu me cuidar, voltar no meu tempo e voltar bem, independentemente de jogar ou não.

Meu intuito é voltar para ajudar o Botafogo, não para fazer jogo de despedida. Estar no grupo. Mas pensei sim: "cara, agora é difícil eu voltar". Mas, com a evolução, está tudo dando certo.

Agora está bem esperançoso que vai jogar em 2018, não é?
Estou bem esperançoso, porque faltam praticamente dois meses e meio para acabar o ano. Creio que nessa semana a gente já volto a mexer com bola e a parte técnica. Estou trabalhando bastante na academia também. Força não perdi, pelo contrário: até ganhei mais força, então vai ser rápido.

De volta ao time: você ainda nem trabalhou muito com Zé Ricardo. Como analisa o momento agora com ele à frente do time?
Muito delicado. A gente não tem que responsabilizar o Zé Ricardo. Pelo contrário. Vem fazendo um grande trabalho. Pegar o time na situação que ele pegou é complicado. Do ano do Botafogo em si, mesmo com o título carioca, acho que a gente poderia ter chegado mais longe. O objetivo do Botafogo hoje é escapar da zona de rebaixamento e brigar pelo título da Sul-Americana.

Para que as pessoas que permanecerem no Botafogo possam sentar no ano que vem e verem no que erraram e no que acertaram. Para que o Botafogo possa estar forte para brigar por Brasileiro e Copa do Brasil, e isso não é um sonho só meu, mas da torcida também.

Seu 2018 caminhava para um final quase perfeito, mas o Botafogo se enrolou na tabela e voltou a lutar contra o Z-4. Durante a lesão, isso mexeu com você?
Minha preocupação que tinha e na realidade tenho, mesmo não atuando em campo, é ajudar fora dele. Não posso parar esse ano, e o Botafogo brigando para não cair. Sempre falei com os jogadores, e todos entendem a situação, mesmo os que estão em fim de contrato ou os que já estão para serem negociados. Falei: "Cara, temos que terminar o ano com o Botafogo lá em cima". Isso é uma preocupação. Temos que escapar da zona de rebaixamento o mais rápido.
Jefferson espera atuar ainda em 2018 — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com
Jefferson espera atuar ainda em 2018 — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com

Tem conversado com os goleiros Saulo e Diego?
Muito. São duas grandes pessoas, dois grandes goleiros. O que acontece é que o time não vem vivendo um bom momento, e o jogador entrar nessa situação é difícil. Vai sobrecarregar e estourar lá atrás. Se eles tivessem entrado num momento bem melhor do Botafogo, talvez haveria tempo para amadurecer com mais calma. Talvez a cobrança esteja grande em cima deles por causa disso. O time não vem em bom momento, e eles vêm sendo exigidos mais rápidos. São jovens, têm que aprender muito no futebol, mas creio que estão dando conta do recado.

Pensou em como deve estar a cabeça dos dois com a sua ausência e a do Gatito num momento difícil da equipe?
Claro que a gente pensa muito no Botafogo, a gente sabe da importância que têm dois grandes goleiros como eu e Gatito. Mas, como entrei com 17 anos e dei conta do recado, eu passo isso para eles. Que eles possam acreditar, converso com eles praticamente todo dia, explico a minha trajetória, falo dos jogos que tive com 17 anos. A gente tem que acreditar, até porque são os dois que temos hoje. Gatito estreou novo, eu estreei, e eles estão dando conta do recado.

A aposentadoria está próxima. Qual a sensação de saber que é um dos maiores jogadores da história do clube?
Muito orgulho. De onde eu saí, em Assis, no interior de São Paulo e com todas as dificuldades que passei na infância. Minha mãe me deu bastante força praticamente criando quatro filhos sozinha. Foi interessante que nessa semana minha mãe (Maria Sônia) mandou umas fotos para mim e me contou uma história que nem eu sabia.

Eu quase morri com dois meses porque fiquei muito desidratado. Ela não sabia o que fazer sem dinheiro. E ela falou: "Glorifico muito a Deus de onde Ele te tirou e onde você está hoje".
Eu não uso isso para poder talvez ir em certos tipos de lugares. Eu sou do povo, eu ando na rua. Essa ficha tá comigo, mas não é a realidade. Se levar isso, você pode acabar menosprezando algumas pessoas, não indo nos lugares onde você gostaria de estar, mas eu trato com naturalidade.

Mas você é consciente de que é um dos maiores do Botafogo, certo?
Eu tenho consciência, mas creio que a ficha não cai. Até prefiro que não caia, mas tenho consciência.

Botafogo é minha paixão, minha segunda casa, minha segunda pele. Realmente sou muito grato a Deus e ao Botafogo por ter me proporcionado chegar onde cheguei.
Anderson Barros, ao passar o boletim sobre sua contusão, brincou: "o Jefferson está igual a um pato rouco". Como foi a reação das suas filhas (Nicole, 10 anos; Débora, 8; e Jéssica, 5) ao escutar a voz do papai tão diferente?
Foi engraçado porque eu falava muito em mímica com elas. Elas são muito cuidadosas. "Papai, você não pode falar nada". Eu falava baixo com elas. E elas e minha esposa cuidaram muito bem de mim em casa.
Jefferson ri ao falar da voz de "pato rouco"  — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com
Jefferson ri ao falar da voz de "pato rouco" — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com

No treino, as pessoas observaram que você voltou mais forte. Estava malhando muito?
A gente estava malhando bastante até para não perder massa muscular. Não só não perdi, mas ganhei mais. Acho que agora é mais parte aeróbica. Previsão de volta não tenho, é mais gradativo. Vamos ver a evolução.

Você e Gatito têm conversado muito nesses dias após o seu retorno aos treinos no campo anexo. Como têm sido esse papos?
Nesse momento, a gente se aproximou mais ainda, até pela dificuldade que a gente vem enfrentando juntos com essas lesões. Mas é interessante que a gente não comenta só de futebol, é importante se conhecer.Ele comenta das coisas lá no Paraguai, é um cara que gosta de pescar e de ir no rio.

Eu comento das minhas coisas também. No momento que a gente tem para descansar, a gente acaba se aproximando.Ele gosta de umas caminhonetes, mostra no vestiário. É bem bacana que a gente se aproximou mais com essa situação.

Postar uma imagem sua é certeza de muitas curtidas, é empatia instantânea. Já está preparado para se afastar e, automaticamente, sentir falta desse enorme carinho?
Pelo contrário. Eu estou fazendo alguns projetos de poder me aproximar ainda mais dos torcedores, porque a gente vive numa correria e não consegue esse contato com eles. A gente vê eventos que o Botafogo promove, como a Feijoada do Fogão, só que não tem tempo para fazer isso. Me aguardem, eu vou estar mais próximos dos torcedores após a minha aposentadoria.

Nós jogadores trabalhamos muito na mídia social, mas eu prefiro o contato. Uma vez em Manaus, por exemplo, o aeroporto e o hotel estavam tomados. O protocolo é de chegar, o segurança abre, e a gente sobe para o hotel. Você dá um tchauzinho lá de cima e tudo bem. Só que não. Eu quebro esse protocolo. Penso: "O Botafogo vem pouco para cá, eu não posso manter isso". Desci, fiquei no meio do povo. Chegamos uma hora da manhã, fiquei uma hora no meio do povo.

Eu procuro fazer e quero ter esse contato com os torcedores, não só de rede social, principalmente depois que eu parar.
Como se divertiu nesse período de recuperação?
Com a proximidade da família. Coisa que não tem preço, a gente procura fazer de coração. Renova as energias. Gosto muito de ir no cinema, na praia e assistir filmes com elas. Gosto muito de levar minhas filhas na escola, até o pessoal fala: "Você tem vindo mais à escola com elas". Isso não tem preço (sorri).

Como tem sido a contagem regressiva para o fim no contato com os funcionários no Nilton Santos?
Está sendo bem difícil. Graças a Deus, tenho muitos amigos no Nilton Santos e no Botafogo. Até os roupeiros e massagistas falam: "Não para não". Me chamam até de Seu Jefferson (risos). Digo "cara, a gente sempre vai manter contato". O que pude fazer pelo Botafogo foi feito de alma. Sei que não acabou, mas é muito difícil você saber que está acabando e não tem mais volta.

Não se desliga do Botafogo, não é?
A gente nunca se desliga. A identidade do Jefferson é o do Botafogo. Fui fazer cruzeiro em Miami, e o pessoal ficou falando: "Olha o goleiro do Botafogo". Às vezes sabem que é do futebol, não sabem o nome, mas sabem que é do Botafogo. Até por isso não quero fazer jogo de despedida, é um até logo. Mas é difícil saber que está chegando a hora, mas chega para todo mundo.


Como vai ser o Jefferson de 2019?
Primeiro é cuidar da minha família, o segundo é estar mais tempo na minha cafeteria. Têm os eventos que quero poder fazer representando Botafogo. Vou me mudar para o interior de São Paulo.

Jefferson é empresário e tem a Beato Cafeteria. Em casa, serviu um café para a equipe de reportagem — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com
Jefferson é empresário e tem a Beato Cafeteria. Em casa, serviu um café para a equipe de reportagem — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com

Está ansioso pela nova fase da vida, em São José do Rio Preto e no comando da Beato Cafeteria?
Estou tranquilo, já estive bem ansioso, até porque a transição para o jogador não é fácil. Sou uma pessoa muito decidida do que eu quero, tenho meus negócios fora do futebol. Então você tem que fazer o meio-campo, mas estou bastante confiante, minha família e minhas filhas também estão bastante animadas. Elas gostam de São José do Rio Preto.

Como investiu no café?
Lugar onde encontrei uma vida fora do futebol. Jogador fica muito tempo no futebol, e a cabeça fica muito no futebol. Ele acaba de jogar e não sabe mais o que fazer. Vai ser empresário, treinador. Eu, graças a Deus, encontrei outro cantinho e outra paixão que é o café. Sempre viajei muito, peguei muitas coisas do meu gosto e do brasileiro para fazer a Beato Cafeteria. Gosto muito do contato com as pessoas, que é uma das coisas que a gente tem muito no futebol, nas ruas. Fico muito feliz de bater papo na cafeteria e conversar sobre futebol.

Eventos com crianças botafoguenses
Até uma novidade que vou abrir mais para frente e coisa que gosto muito é o contato com as crianças. Vejo que algumas crianças às vezes gostariam de seu ídolo ir no aniversário deles. Já fui a alguns aniversários. Gostaria de tirar esse tempo e fazer surpresas para crianças em aniversários, em festas de casamento. Já me chamaram muitas vezes, mas nossa agenda não permite.

Você proporcionar essa alegria para as pessoas não tem preço. Não me esqueço quando eu era do Cruzeiro, e o Dida parou na minha frente e me deu atenção. Meu olho brilhou. Não esqueço, e as crianças não esquecem. As pessoas que são botafoguenses e fãs não esquecem isso, então tenho esse projeto de poder estar mais próximo dos torcedores para 2019.
Jefferson, seus troféus e faixas conquistadas pelo Botafogo — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com

Jefferson, seus troféus e faixas conquistadas pelo Botafogo — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com

O que significa o Botafogo para você?
Botafogo é minha paixão, minha segunda casa, minha segunda pele. Realmente sou muito grato a Deus e ao Botafogo por ter me proporcionado chegar onde cheguei.

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