segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

O último tijolo da reconstrução: Chape transforma ano difícil, em temporada histórica

O último tijolo da reconstrução: Chape transforma ano difícil, em temporada histórica 

Pergunte a qualquer torcedor da Chapecoense sobre a expectativa e realidade para a temporada 2017. Depois de perder quase todo o time e diretoria na tragédia da Colômbia, tudo que se desejava era um Verdão que permanecesse na elite do futebol brasileiro. O que veio, porém, foi muito além e chega a gerar dúvidas sobre qual é o maior ano da história do clube.
Uma temporada com enredo que tranquilamente poderia estar nas telas do cinema e atrair multidões nas bilheterias. Como a fênix, a Chape se refez das cinzas e ressurgiu em um ano que calejou toda uma cidade, sobretudo dirigentes, jogadores e torcida. O último tijolo na reconstrução do clube foi colocado na tarde do último domingo, na Arena Condá, com a vitória sobre o Coxa e classificação para a Libertadores.
Primeiros passos e o Bi estadual
Chapecoense foi campeã estadual (Foto: Sirli Freitas/Chapecoense)
Chapecoense foi campeã estadual (Foto: Sirli Freitas/Chapecoense)
Reduzida a praticamente nada e juntando os próprios cacos em janeiro, a Chape recusou qualquer possibilidade de ter imunidade no Brasileirão. Taxado arrogante, Plínio David De Nes Filho, o Maninho, e sua diretoria recém formada, precisou engolir em seco, até poder mostrar a lógica de uma escolha que poderia muito bem dar errada. Foi também o presidente que em certo momento disse que não aceitaria uma classificação inferior a 10ª.
- Eu sempre disse que quando o Seu Plínio tomou a decisão, junto com a diretoria, de não aceitar a imunidade, não foi um gesto de arrogância, mas de grandeza, de caráter, de um clube que tem uma torcida dedicada. Havia a convicção de que o clube precisava buscar a reconstrução de forma legítima - disse Rui Costa, diretor executivo.
A história de uma nova Chapecoense, com ares de velha, já que a dedicação em campo permaneceu a exemplo do time perdido na tragédia, passou a ser escrita já no estadual. Sob o comando de Vagner Mancini, o clube conquistou pela primeira vez um bicampeonato catarinense, cinco meses depois do fatídico 29 de novembro de 2016. Era o indício de que a torcida poderia chegar ao fim do ano com a desejada permanência na Série A.
Libertadores e oscilação
Na fase de grupos, Chape venceu finalista Lanús, mas perdeu pontos por escalação irregular de Luiz Otávio (Foto: AP Photo/Agustin Marcarian)
Na fase de grupos, Chape venceu finalista Lanús, mas perdeu pontos por escalação irregular de Luiz Otávio (Foto: AP Photo/Agustin Marcarian)
Estreante na Libertadores, o Verdão não tinha obrigações. Deu o primeiro passo com vitória, venceu um dos finalistas e encerrou sua participação de forma digna. Não fosse o problema na escalação irregular de Luiz Otávio, contra o Lanús, o time chegaria às oitavas da competição.
O início no Brasileirão também superou as expectativas, mas não demorou para aparecerem os sinais de oscilação, alertados desde o início do ano pela comissão técnica. Depois de liderar, o time caiu na tabela. A primeira pulga foi colocada atrás da orelha. A crise chegou, e precisou ser contornada pela diretoria.
-O departamento de futebol nunca teve dúvidas do caráter um do outro. Algumas pessoas tentaram me afastar do Rui (Costa), colocar intrigas e nunca entramos nesta armadilha. Hoje o Rui é meu amigo e falei para ele que se tivéssemos problema, a Chapecoense ia cair. Somos os caras do futebol, junto com o Nivaldo, que vai ser um grande dirigente, está aprendendo. Tenho orgulho do trabalho que estamos terminando de fazer - disse João Carlos Maringá, diretor de futebol.
Viagem ao exterior, o regresso e a glória
Antes da viagem internacional para Europa e Japão, para disputa da Joan Gamper e Copa Suruga, Maninho novamente demonstrou força ao revelar que não admitia que o clube terminasse a competição na parte debaixo da tabela.
- Estamos firmes no nosso projeto de permanecer na Série A e de ficarmos entre os dez primeiros. Não abro mão disso - disse na época.
O presidente mais uma vez demorou para provar que sua previsão estava certa:
- Tínhamos a certeza de que nossos profissionais podiam atingir esse feito. Nas dificuldades, reafirmamos nosso desejo de ficar entre os dez primeiros. Eles estão de parabéns.
Chapecoense enfrentou Barcelona na volta de Alan Ruschel aos gramados (Foto: AFP)
Chapecoense enfrentou Barcelona na volta de Alan Ruschel aos gramados (Foto: AFP)
Mais do que ficar na parte de cima da tabela, a Chapecoense terminou a Série A na melhor colocação de sua história (8º), com a maior pontuação (54) e alcançou pela primeira vez a classificação para a Pré-Libertadores através da competição nacional.
A conquista também muda o planejamento para a próxima temporada. A vaga na Pré-Libertadores garante um reforço financeiro para o clube. Se baseado em 2017, o valor pago para os times que disputaram esta fase foi de US$ 400 mil (R$ 1,4 milhão).
- Vivemos tantos momentos diferentes no ano, que é difícil fazer uma avaliação. Passava pela cabeça que o objetivo era permanecer entre os melhores times do Brasil. Fomos além. Coroamos um ano difícil, que paralelo ao trabalho, tínhamos que conviver com a dor. Com a ajuda deles lá de cima, fomos coroados - disse Maringá.
A alegria em um ano marcado pelo luto
Além de lidar com a adversidade se reconstruir, a diretoria verde e branca ainda precisou lidar com a dor do luto. Fazer reviver um ambiente tomado pela dor da perda, esbarra no limiar do até quanto a alegria não vira desrespeito.
- Dizer que o ano foi feliz, espetacular, é sempre difícil, porque o que nos trouxe aqui foi uma tragédia sem precedentes na história do futebol mundial. Sempre que tivemos celebrações, como esta, que para nós talvez seja mais importante do que ser campeão brasileiro, sempre fizemos de maneira respeitosa por estarmos aqui pelo que aconteceu - disse Rui Costa.
Maringá  precisou lidar duplamente com o luto no ano de reconstrução da Chapecoense (Foto: Sirli Freitas/Chapecoense)
Maringá precisou lidar duplamente com o luto no ano de reconstrução da Chapecoense (Foto: Sirli Freitas/Chapecoense)
Visivelmente emocionado, Maringá abriu o coração ao falar de outra perda que teve: a da esposa, dois dias antes da queda do avião que levava a delegação da Chapecoense.
- No dia que me despedi de minha esposa no leito do hospital, ela me deu um beijo e disse ‘seja feliz’. Eu sofri o ano todo pela perda dela. Eu tinha muitos motivos para ficar de luto, mas a maneira que encontrei de homenagear minha esposa e meus amigos, foi trabalhando, sendo digno e tentando ajudar a Chapecoense a permanecer entre os maiores do Brasil. Nossos amigos olharam por nós e conseguimos coisa maior - disse.
Enquanto os jogadores ensacaram seus pertences que estavam nos vestiários do estádio, alguns sem saber qual será seu futuro, do lado de fora as luzes da Arena Condá foram se apagando aos poucos e os regadores do campo foram ligados. É o início da preparação para 2018. O ano de 2017 chegou ao fim, com o saldo positivo e a alegria tímida de quem viu seu time se reconstruir, mas sem esquecer daqueles que partiram.

Nenhum comentário:

Postar um comentário