quarta-feira, 28 de junho de 2017

Baiano De Serrinha e Destaque do Avaí no Brasileirão ,É Alvo do São Paulo

Capa em ação contra o Flamengo pelo Brasileiro de 2017

Foram duas descidas pela esquerda.

Na primeira delas, combinação com o veterano Juan, ultrapassagem e passe para trás que, após bate e rebate, encontrou o camaronês Joel. Na segunda, roteiro semelhante: cruzamento para a região da meia lua, ajeitada de Pedro Castro e finalização precisa de Joel.


O Avaí surpreendeu o Botafogo e venceu por 2 a 0 no estádio Nilton Santos, na última segunda-feira. Em noite inspirada, os catarinenses viram o lateral esquerdo Capa, uma das revelações da Série A, mais uma vez se destacar. Aos 24 anos, o jogador já entrou no radar de grandes e recebeu consulta recente do São Paulo, que corria o risco de perder o seu titular Júnior Tavares para o Ajax.

Parece pouco.

Mas não é.

Até o primeiro semestre de 2016, o baiano natural de Serrinha, município a 170 km de Salvador, atuava no Guarani de Palhoça-SC, havia sido rebaixado no Catarinense e não contava com empresário.

Ainda assim, se sobressaiu no estadual e entrou no radar do agente Eduardo Uram, que o levou para jogar a Série B no Avaí.
 
Capa rodou um pouco antes de chegar à Ressacada.

E avisa de antemão: o seu apelido nada tem a ver com ser magro, estar apenas 'a capa do Batman', como brincam seus conterrâneos.

"Meu bisavô vinha da zona rural e tinha um jeguinho e amarrava na frente da minha casa. Eles tiravam a sela e deixavam só amarrado o animal. Então, eu ia, desamarrava e ia pelo meio da rua andando com ele montado. Eu tinha dois vizinhos da casa de minha mãe que gritavam: 'capa de sela'. No começo, eu não gostava, chorava, brigava. Mas depois foi pegando e até que acostumei (risos)", sorri.

Foi assim que ele conciliou os estudos com o trabalho desde cedo em uma oficina de motos em sua Serrinha. "Eu era ajudante de mecânico, limpava as ferramentas, ajudava a trocar o óleo. Depois, aprendi a mexer nas motos também. Aprendi a fazer outros serviços, mas passei a maior parte do tempo como ajudante. Eu era menor de idade e não podia nem andar com as motos (risos). Foi 14 anos até uns 16", diz.

Ao mesmo tempo, jogava na várzea e chamou a atenção atuando pela Escolinha do Euzébio. Logo, com 15 anos, estava entre os mais velhos e foi parar na seleção local.

Passou a disputar o Campeonato Intermunicipal, um dos maiores amadores do mundo e que reúne os municípios do interior.

Capa é titular do Avaí desde a Série B de 2016

Entre outros, passaram por ele Bobô (seleção de Senhor do Bonfim), Aldair (Ilhéus), Edilson Capetinha (Castro Alves), Junior Nagata (Santo Antônio de Jesus) e Liédson (Valença). No mesmo caminho, Capa ganhou um teste no Palmeiras após se sair bem.

"Fui criado em um bairro que tem um campo e sempre batia o 'baba' (pelada) na escolinha com a galera. Acabei passando com os mais velhos e foi quando comecei a ir para os campeonatos municipais de Serrinha e jogamos várias finais. Até que fui para a seleção da cidade no sub-17 com 15 anos. Fomos até a final do Intermunicipal e conseguiram teste no Palmeiras", revela.

"Existia um empresário em minha cidade chamado Mario, que mora em São Paulo e levou jogadores para fazer teste. Ele me viu na final do Intermunicipal, gostou e me levou para fazer uma semana de avaliação. Passei e fiquei um ano e dois meses. O Victor Luis, do Botafogo, era da minha época, Vinicius, atacante que está na Turquia, e o volante Gabriel, do Paraná", prossegue.

No Palmeiras, Capa enfrentou uma série de dificuldades com burocracia para inscrição, falta de espaço e empresário e ficou 'encostado' a maior parte do tempo.

"Eu cheguei como juvenil, mas não tinha como me inscrever na categoria e subi aos juniores. Treinava com eles, mas eu tinha 16 para 17 anos. Fazia os trabalhos em Guarulhos e morava na Barra funda, no alojamento da base, mas o Palmeiras dava ônibus. Eu saí de Serrinha, uma cidade tranquila, muito pacata e ir para aquela muvuca, mas não demorei para me acostumar. Me adaptei bem", acrescenta.

"Quando cheguei no grupo, não tinha muito espaço, em time grande a briga é constante, empresário mais forte e aí não cheguei a jogar, fiz poucas partidas no Palmeiras. Esse empresário tinha conhecimento com o ex-agente do Liedson, me levou para fazer teste, então, no Braga, em Portugal. Saí de férias em dezembro, meu empresário falou do negócio de Portugal e eu me empolguei. Decidi não ficar mais no Palmeiras, não estava jogando. Cabeça de menino, queria jogar de qualquer forma e pedi para sair e tentar a sorte. Fiquei só 15 dias no Braga, não deu certo e acabei voltando para Serrinha", completa.

Foi, então, que Capa chegou a desanimar e não descartava nem mesmo largar de vez o futebol.

Em sua terra natal, famosa na região por sua vaquejada anual, atuava na várzea em troca de R$ 60 por jogo até que uma nova chance agora no Marcílio Dias-SC surgiu para retomar a sua carreira.

"Fiquei naquela, o empresário falando que estava vendo e o tempo passando. Eu desanimei porque estava para fazer 18 anos. Pensava que não ia conseguir manter no ramo do futebol. Jogava na várzea e ganhava uns R$ 60 por jogo ou outro que fazia. Um amigo meu chamado Gilberto, que considero como um irmão, estava jogando no Marcílio Dias no profissional. Me ligou e falou que arrumaria um teste para eu fazer no sub-20 em uma partida. Ele arrumou, meus pais e o pessoal do meu bairro fizeram uma correria com o dinheiro e consegui comprar a passagem de avião", relembra.

"Passei no teste e joguei pelos juniores e fui para o profissional. Depois, rodei por vários clubes. Passei por Grêmio Osasco na Série A-2 do Paulista. Joguei com Viola, Dodô e Yamada. Depois, rodei por Atlético de Ibirama, Guarani de Palhoça e fui bem no Catarinense. Não tinha empresário e me empregava a cada campeonato que fazia. Quando chegou neste último estadual em 2016 foi quando despontei e conheci o Eduardo Uram, que virou meu empresário e me trouxe ao Avaí", finaliza.

Com contrato até 2019, Capa teve 70% de seus direitos econômicos comprados pelo Avaí ao Guarani de Palhoça-SC no fim de 2016. Agora, ele planeja voos mais altos.

"Fiquei sabendo do interesse (do São Paulo). Meu foco é no Avaí para ter uma sequência e fazer uma boa Série A. Consequentemente, se continuar bem, poder almejar coisas maiores. Para que possa alavancar minha carreira", concluiu.

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