Tricolor toma medidas para garantir a tranquilidade de jogadores e funcionários. Presidente Pedro Abad confirma contato com autoridades e fala em ações sociais
Inaugurado em 21 de julho de 2016, dia do aniversário de 114 anos do Fluminense, o Centro de Treinamento Pedro Antonio Ribeiro da Silva virou motivo de orgulho para os tricolores. Apesar do ganho em estrutura com a construção, alguns eventos recentes viraram motivo de preocupação para clube e jogadores. Situado em área de risco e com casos de violência nos últimos meses, o CT ganhou destaque no noticiário esportivo e também nas páginas policiais. Tanto que, a pedido do Tricolor, a Polícia Militar decidiu dar atenção especial à região.
CT do Fluminense virou realidade, mas ainda não está totalmente concluído (Foto: Hector Werlang)
O Fluminense procurou recentemente a PM e solicitou reforço na segurança do local que recebe os treinos do time profissional. A conversa entre dirigentes e oficiais ocorreu após o tiroteio da sexta-feira, último caso registrado. Com incursões e patrulhamento diário tanto dentro do terreno quanto nas redondezas, a PM virou parceira. Outros pedidos de colaboração já haviam sido feitos desde a inauguração no segundo semestre de 2016. O clube garante ainda que fará ações sociais na Cidade de Deus, comunidade vizinha ao CT.
- O Fluminense segue tomando todas providências necessárias para garantir a maior segurança no Centro de Treinamento Pedro Antonio Ribeiro da Silva. Para isso, o clube conta com a ajuda do poder público, já iniciou conversas com as autoridades competentes e fará também ações sociais na comunidade que fica localizada próxima ao CT - disse o presidente Pedro Abad aoGloboEsporte.com.
A medida tem por objetivo dar tranquilidade a atletas e funcionários. Preocupados também com a falta de segurança na cidade em geral, e visando a dar mais tranquilidade aos familiares, alguns jogadores decidiram blindar seus carros. Um deles, aliás, tomou a medida ao presenciar recentemente um assalto na Zona Sul. Outros preferem ir ao treino de Uber - retornam a suas casas de carona. Há relatos ainda de funcionários assaltados tanto ao chegar quanto ao sair do expediente. Alguns deles afirmam ter presenciado a desova de veículos roubados nas redondezas.
- É perigoso em qualquer parte do Rio. É também em São Paulo, em Porto Alegre... em todos os lugares. Hoje em dia, está muito difícil. A favela é perto daqui, tem essa briga... Temos de tomar cuidado, prestar atenção, estar sempre alerta. O trabalho não pode ser influenciado por causa disso. Temos de deixar o Fluminense cuidar dessa parte externa. Aos poucos, estão se organizando para isso - disse o meia Marquinho na entrevista coletiva da última terça.
O CT é vizinho a uma das maiores e mais conhecidas comunidades da capital fluminense, a Cidade de Deus. Mesmo com uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), a comunidade sofre com a violência, fruto da tentativa de uma facção criminosa de recuperar o poder no local. Como o terreno da nova casa tricolor está na divisa de jurisdição entre o 18º Batalhão de Polícia Militar (Jacarepaguá) e a UPP da Cidade de Deus, as duas unidades trabalham em conjunto. Seus comandantes se reuniram na terça-feira para decidir novas operações.
Segurança no topo do prédio do CT Pedro Antonio (Foto: Caio Filho)
Custeado pelo empresário que dá nome à sede, o CT do Flu não tem muros ao seu redor, apenas cercas, ideia do próprio vice-presidente de Projetos Especiais. Por ora, a entrada é pela Avenida Comandante Guaranys, conhecida rota de fuga de criminosos da Cidade de Deus, já que passa próxima à localidade chamada de "Caratê", principal foco de confrontos armados na comunidade. Durante a invasão ocorrida em dezembro, na qual dois seguranças foram torturados, os criminosos disseram que estavam escondidos na mata vizinha ao terreno há dias.
O projeto prevê a construção de uma rua que ligaria a Avenida Ayrton Senna ao CT. Assim, seria desnecessário circular pela Avenida Arroio Fundo, via que atualmente dá acesso ao local, e também passa por trás da favela. Esta obra tem valor estimado em R$ 3 milhões. Por falta de recursos, o Tricolor não contratou mais nenhum serviço para concluir a construção. Mesmo assim, o discurso é de que ela está adiantada, afinal, o prédio administrativo, conhecido como torre, deveria sair do papel apenas em 2018. Os seus seis andares estão prontos.
Relembre os casos
Furto de camisas
Em 30 de abril de 2016, homens armados invadiram o CT, ainda em obras, e furtaram 10,2 mil camisas do clube, ferramentas e um computador. A vestimenta seria usada no programa de doação à construção, que, afinal, nunca chegou a ser lançada - foi o último modelo confeccionado pela Adidas, antes da troca para a Dryworld. O caso foi registrado na 32º Delegacia da Polícia Civil, que identificou dois suspeitos do crime.
10,2 mil unidades do modelo não lançado pela Adidas foram levados por bandidos (Foto: Fred Huber)
Invasão e agressão a seguranças
Em 23 de dezembro de 2016, três homens armados invadiram o CT - o clube estava de férias, portanto, sem treinos. Eles renderam dois seguranças, que foram agredidos. Por cerca de três horas, os torturaram. Marco Rosa e Aguilar de Jesus ficaram amarrados e só foram libertados por PMs, após um terceiro funcionário do clube chegar para trabalhar e chamar a polícia - precisaram ser atendidos no Hospital Lourenço Jorge. Nada foi roubado, e, após tiroteio, um suspeito foi preso em flagrante - os outros dois conseguiram fugir. Elenilson dos Santos Justen foi autuado por roubo, resistência e tortura. De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária, está detido no Presídio Ary Franco. O delegado Rodolfo Waldeck, titular da 32ª DP, que investigou o caso, não quis dar entrevista. A assessoria da Polícia Civil informou que a apuração continua.
Tiroteio
Na última sexta-feira, enquanto o Flu disputava jogo-treino contra o Serra Macaense, o primeiro teste de 2017, houve um tiroteio na região. O barulho de ao menos dois disparos pôde ser ouvido de dentro do CT, o que fez dois policiais militares, que estavam no local, saírem em patrulha de moto. Pouco tempo depois, voltaram. Quando a imprensa se preparava para deixar o local (o segundo tempo da atividade foi fechada), houve mais tiros. Os policiais reforçaram o patrulhamento na saída para garantir a segurança. Não houve feridos ou presos.
PMs patrulham o CT do Fluminense após tiroteio da última sexta-feira (Foto: Edgard Maciel de Sá)
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