Autor dos dois gols do Mundial como atacante em 1983, treinador volta para "casa" para comandar equipe no penta da Copa do Brasil, com fim de jejum de 15 anos
Renato Portaluppi adentra o auditório da Arena, mãos dadas com a filha Carol, e a reação é instantânea. O ambiente se transforma. Quase ganha vida própria, sob a luz cintilante do maior personagem da história do Grêmio. Ali, diante dos holofotes, o treinador toma para si todos os focos de atenção e domina o cenário com a maestria de um ídolo que retornou a sua "casa" para se tornar ainda mais ídolo. A fala segura, malandra, cítrica, é respaldada por um cartel de glórias: dos gols do Mundial ao penta da Copa do Brasil. Ao primeiro título da Arena. Ao fim do jejum.
GrÊmio x Atlético-MG Copa do Brasil final Grêmio Renato Gaúcho penta (Foto: Lucas Uebel/Grêmio)
Tudo isso teve o dedo heroico de Renato Gaúcho. Em sua entrevista coletiva após a conquista sobre o Atlético-MG, na noite de quarta-feira, o comandante falou com a propriedade de quem manda no Tricolor – guardadas as devidas hierarquias. Brincou, se divertiu e até bebeu cerveja servida pelo presidente Romildo Bolzan, numa espécie de extravaso da estrela que havia adotado um perfil mais maduro e bem menos espalhafatoso até então.
Enquanto jogador, Renato nutriu uma relação de troca mútua e direta com o Tricolor. O atacante forjou a história do clube, ao passo que o clube forjou a carreira do atleta, com os títulos da Libertadores e do Mundial, em 1983. Como treinador, o ídolo teve duas passagens de relativo sucesso, mas sem taça, em 2010 e 2013. E retornou para a empreitada vitoriosa após um hiato de dois anos sem trabalhar.
Tempo suficiente para amadurecer. Acostumados a um Renato malandro, os gremistas encontraram um treinador bem mais cauteloso, salvo algumas frases de efeito. Na campanha até o penta, soube pontuar bem os ânimos de seus atletas, ao blindar o elenco a cada fase, sempre com vantagem obtida no jogo de ida. Em especial, nesta final, disputada em meio à tragédia com o avião da Chapecoense. Mesmo emocionado e abatido, o treinador atuou para manter elevado o nível de concentração e o moral do grupo.
A postura comedida, porém, foi deixada em um segundo plano bem distante na entrevista coletiva após o duelo derradeiro na Arena. O treinador expandiu sua idolatria – como se fosse possível – ao encerrar o jejum de 15 anos, com o penta inédito da Copa do Brasil e o primeiro título da história do novo estádio. Novamente, forjou a história do clube. Novamente, numa série de brincadeiras e provocações, listadas abaixo:
BANHO
A entrevista icônica de Renato Gaúcho começou com um "susto" para o treinador. Mal havia se acomodado ao lado da filha Carol para a entrevista coletiva, e os atletas "invadiram" o auditório para dar um banho de espumante no comandante. A resposta veio no tom típico:
– Talvez vocês tenham visto alguns deles pela última vez. Caraca! – brincou o treinador.
FOLGA?
Aos risos, Renato logo tratou de garantir o descanso merecido após o penta. Direcionando-se aos dirigentes que acompanhavam a entrevista coletiva, o treinador garantiu: a partir desta quinta-feira, estará de "chinelos e shorts", muito provavelmente, em alguma praia no Rio.
– A partir de amanhã, estarei de chinelos e shorts, antes de pedir uma saidinha mais rápida. Acredito que vão me dar essa folga. Estou precisando, mas domingo tem jogo, né? O Cuca (no Palmeiras) liberou 10, 12, 15 e está tudo certo. Eu vou viajar mesmo amanhã (quinta), mas estou brincando. Não se preocupa que vamos ter um time para colocar em campo (contra o Botafogo) – descontraiu o comandante.
Renato Portaluppi, no gramado com a filha, Carol (Foto: Diego Guichard / GloboEsporte.com)
ESTÁTUA
O ídolo aproveitou a festa pela taça tão esperada para "cobrar" a diretoria do clube. Após os dois gols no Mundial e a conquista que findou o jejum de 15 anos a nível nacional, é a vez dos dirigentes construírem uma homenagem ao eterno camisa 7, com uma estátua na Arena.
– Não queria falar, mas o doutor Preis está aqui... Não estou vendo o presidente... Está muito eufórico. Sabe-se lá onde está. Doutor Preis, o presidente está chegando, vou fazer um pedido. Tinha falado para os jogadores. Não é muita coisa. Atrás do gol, eu já escolhi o local. Em frente aos nossos loucos, no bom sentido, ali na geral. Pode preparar a minha estátua, tá? Pode colocar ali. O tamanho, vocês escolhem lá – disse, aos risos, o treinador.
AO VENCEDOR...
A estátua ainda depende de uma série de questões internas para sair do plano imaginário. Mas o presidente Romildo Bolzan logo tratou de garantir ao treinador um presente, ao menos para festejar a taça. Aos risos, o mandatário encheu o copo do técnico de cerveja.
Romildo Bolzan coloca cerveja no copo de Renato Gaúcho (Foto: Eduardo Deconto / GloboEsporte.com)
"QUEM SABE, SABE"
As brincadeiras e as provocações do comandante também tiveram espaço para uma resposta a algumas críticas que Renato recebe por seu estilo mais "informal". O treinador aproveitou para rebater, a sua maneira, as cobranças para que estude futebol:
– Eu coloco o seguinte: futebol é para quem conhece. É que nem andar de bicicleta. Você não desaprende. Quem precisa, estuda, tem que ir para a Europa. Quem não precisa, pode tirar umas férias na praia sem problema nenhum. Muita gente criticou que estão trazendo um treinador que estava jogando futevôlei na praia. E aí? Quem sabe, sabe. Quem não sabe, vai estudar – ressaltou.
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