Com vuvuzelas, sirenes, sinos e megafones, a Fundação Nelson Mandela quer que a África do Sul faça muito barulho esta sexta-feira (05.12), para assinalar o primeiro aniversário da morte do seu fundador.
A ideia invulgar vai traduzir-se em três minutos e sete segundos de barulho ensurdecedor, seguidos de três minutos de silêncio. No total, a cerimónia durará seis minutos e sete segundos, para simbolizar os 67 anos que Nelson Mandela passou ao serviço da África do Sul, como combatente clandestino, prisioneiro e político.
Para muitos sul-africanos, o som será um grito de alerta. Vinte anos após as primeiras eleições livres no país, a democracia está a ser posta à prova.
Há pouco menos de um mês o partido da oposição Combatentes pela Liberdade Económica (EFF, na sigla em inglês) protagonizou um evento insólito e sem precedentes, no Parlamento sul-africano, com Ngwanamakwetle Mashabela a lançar um ataque verbal contra o Presidente Jacob Zuma. “O Presidente do ANC é o maior ladrão do mundo. Não vou retirar o que disse. Zuma é um criminoso!”, acusou.
Depois de várias chamadas de atenção do líder da Assembleia, um membro do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), a polícia foi chamada a intervir. Uma decisão que chocou grande parte dos deputados.
Agentes armados invadiram o Parlamento e o confronto subiu de tom. O tumulto serviu para unir a oposição do EFF e dos liberais da Aliança Democrática. Ambos falam numa crise constitucional.
África do Sul numa encruzilhada
Isto nunca teria acontecido sob a liderança de Nelson Mandela, diz o ativista Lawson Naidoo. “São imagens que nunca pensamos ver numa sociedade democrática. Estamos numa encruzilhada. Muitas das nossas instituições políticas estão sob pressão, não é apenas o Parlamento”, observa.
Naidoo é o líder do Conselho para o Avanço da Constituição da África do Sul, uma organização que também atraiu muitos membros do ANC que não conseguem exercer uma influência moderadora junto de Jacob Zuma.
Recentemente, o Presidente sul-africano protagonizou um escândalo ao gastar dinheiro do Estado para obras de luxo na sua casa de campo. Após uma investigação, concluiu-se que Zuma deveria devolver grande parte desse dinheiro. Mas o ANC interveio, criando um comité que absolveu o líder de qualquer crime.
Para a oposição, o caso foi uma farsa. Lawson Naidoo fala também numa crise e defnede que é necesária “uma liderança abrangente, para construir uma sociedade na base dos valores e princípios da Constituição” sul-africana. “Uma democracia inclusiva, com um Governo transparente e não apenas ter em conta as necessidades do partido no poder ou proteger determinados políticos do escrutínio da lei.”
País tem de “acordar”
A geração mais jovem da África do Sul tem uma visão mais relaxada do futuro do país. Para Zama Moyo, estudante de política e relações internacionais da Universidade de Witwatersrand – onde Nelson Mandela esteve inscrito – a África do Sul precisa de “acordar”.
Por isso, os tumultos no Parlamento e o barulho para assinalar o aniversário de Mandela, esta sexta-feira, são sinais positivos. “Parece que a democracia da África do Sul recebeu uma injeção de saúde. Há um interesse renovado na atividade parlamentar. Penso que a democracia está num bom estado”, considera Zama Moyo.
Nem todos os sul-africanos concordariam com o estudante universitário. Mas, um ano depois damorte de Nelson Mandela, a saúde da democracia é certamente o desejo de todos.
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