segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Do Acre ao Rio: até chegar à seleção, Weverton superou solidão e dúvidas

Dono de escolinhas de goleiros, arqueiro sofreu para se adaptar ao Corinthians
com 17 anos e chegou a ser questionado no Atlético-PR por não defender pênaltis

Weverton Atlético-PR (Foto: Divulgação)Weverton orienta aluno em uma de suas escolinhas de goleiro em Curitiba (Foto: Gustavo Oliveira / Atlético-PR)
Weverton tinha 17 anos quando surgiu a oportunidade da vida. Depois de uma adolescência jogando bola nos campinhos de terra de Rio Branco, capital do Acre, passou a jogar no Juventus, time da cidade, e com ele viajou para disputar a Copa São Paulo de Juniores. Quando soube que o filho enfrentaria o Corinthians, a mãe, Josefa, brincou:
- Vão apanhar feio – avisou a mãe. 
Daquela vez, o pressentimento materno deu errado. Weverton se destacou e fechou o gol. Em vez de surra, honrosa derrota por 1 a 0 para o time que seria campeão. O melhor veio depois: convite do Corinthians para fazer um teste. 
O Juventus não quis liberar Weverton e bateu pé. No fim das contas, prevaleceu a vontade do jovem, que viajou para São Paulo, foi aprovado, mas não se adaptou rápido. Bateu saudade de tudo: da namorada que ficou em Rio Branco, da família, do clima...
- Eu nunca tinha saído de casa. Quando cheguei em São Paulo e vi a realidade, pirei. Queria ir embora. Muita gente me ajudou. Acabei ficando, me adaptei, mas realmente foi muito difícil. Ninguém sabia qual era a minha situação – contou Weverton ao GloboEsporte.com. 
Escolinha de goleiros
Weverton continuou no Corinthians, mas não teve chance. Participou da campanha da Série B em 2008, mas precisou sair para se destacar. Rodou por Oeste, América-RN, Botafogo de Ribeirão Preto até chegar na Portuguesa e se firmar. Depois, foi para o Atlético-PR, onde virou ídolo e um dos principais goleiros do Brasil. O suficiente para Rogério Micale convocá-lo para a seleção olímpica em substituição a Fernando Prass – fato que fez sua página no Facebook ganhar quase três mil seguidores só na noite de domingo.
Weverton Atlético-PR (Foto: Divulgação)Prestes a ser pai, Weverton tem empatia com crianças (Foto: Gustavo Oliveira / Atlético-PR)
O goleiro virou ídolo tão querido no Furacão que resolveu abrir uma escolinha de goleiros. Em parceria com o clube, ele tem duas unidades em Curitiba e faz questão de aparecer por lá regularmente para dar aula aos pupilos, de seis a 18 anos. O próximo passo é abrir um projeto social em Rio Branco. 
- As crianças se identificam muito comigo. Meu público maior aqui são as crianças. Elas querem ser goleiras porque eu sou goleiro. Assim, tive a ideia de fazer a escola. Era uma oportunidade de interagir. Uma vez por mês, ou em 15 dias, dependendo da agenda, eu dou um aulão. Meu maior prazer vai ser ver um goleiro sair dali. É meu projeto para o futuro – disse Weverton. 
Na escolinha, o arqueiro pode relembrar o passado. Criado pela mãe e pelo avô materno, Weverton teve dificuldades comuns a muitos jovens para ser jogador de futebol. Precisava faltar a treinos por não ter dinheiro de transporte. Em folga no Corinthians, quando pensava em abandonar tudo, foi Josefa quem se virou para pagar a passagem de volta ao Acre para o menino aliviar a saudade. 
- Ele não estava se adaptando, queria voltar para casa. Dizia que o CT era um deserto, só escutava grilo, era uma solidão. Comprei uma passagem, quase meu salário inteiro, para ele ir para a casa. Achei que deveria confortar o coração dele – lembrou Josefa. 
Weverton Atlético-PR (Foto: Divulgação)Weverton conversa com alunos em escolinha (Foto: Gustavo Oliveira / Atlético-PR)
Artilheiro de rachão e estilo que combina com Micale
A luta da mãe deu certo. Weverton não vingou no Corinthians, mas as coisas começaram a melhorar na Portuguesa. Lá, foi o goleiro da Barcelusa, que ganhou a Série B do Campeonato Brasileiro em 2012. No Atlético-PR, manteve o crescimento. Foi num cenário parecido ao de sua primeira grande chance que Weverton ganhou pontos para a convocação. No dia 11 de julho, Micale e Tite acompanharam a vitória por 3 a 0 do Furacão sobre o Cruzeiro, no Mineirão. O arqueiro teve exibição de gala e agradou. Além disso, seu estilo combina com o do treinador olímpico, principalmente na facilidade em jogar com os pés. 
Weverton Luciano Oliveira Atlético-PR (Foto: Gustavo Oliveira / Atlético-PR)Weverton com Luciano Oliveira, seu preparador no Atlético (Foto: Gustavo Oliveira / Atlético-PR)
- Acredito que sim (facilidade com os pés pesou na convocação). Para o futebol de hoje é muito importante, e essa qualidade que tenho passou um pouco de confiança. Estou acompanhando, e o Micale está num momento diferente da seleção, que sai jogando, troca passes. É bom. Tem risco, mas o risco vale a pena – disse Weverton. 
- Ele gosta de atuar na linha quando possível. A gente insere ele no trabalho com o grupo para que possa desenvolver essa aptidão. Os treinadores sabem dessa necessidade e nos ajudam. Ele é goleador no rachão (risos) – contou Luciano Oliveira, preparador de goleiros do Atlético.
Outra característica do arqueiro que pesou em sua escolha foi a capacidade de defender pênaltis. Micale havia frisado esta qualidade em Prass ao explicar a convocação do goleiro do Palmeiras. O curioso é que, assim como o veterano cortado, Weverton só desenvolveu este aspecto do jogo recentemente. Antes, era até questionado porque não ia bem no quesito.
- O Weverton vem numa crescente, mostrando consistência.  As pessoas questionavam um pouco isso de pegar pênalti, falavam que ele pegava pouco. Ele passou a se cobrar muito por isso. Fiquei preocupado, nós conversamos algumas coisas, trocamos ideias. Temos a nossa receita particular, a receita da vovó que não pode passar para ninguém – contou Luciano Oliveira, preparador de goleiros do Atlético-PR. 
Defender pênalti não é mais problema para Weverton, nem solidão. Prestes a ser pai, ele trouxe a família para morar em Curitiba. Na seleção, também não terá problema: foi incluído no grupo de WhatsApp dos jogadores e recebeu as boas-vindas. Ele se apresenta na manhã desta segunda-feira. Começará um novo capítulo em sua carreira, com um destino improvável quando começou a jogar bola no norte do país: o Rio de Janeiro, palco da final do torneio de futebol masculino da Olimpíada.

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