Organização espera que símbolo ajude a melhorar atmosfera nacional diante das crises políticas e econômica; cerimônia no Planalto marcará início do percurso
Foram dias de espera. Desde o dia 21 de abril, quando foi acesa, a chama olímpica circulou por Grécia e Suíça. Por volta das 7h30 desta terça-feira, um dos principais símbolos dos Jogos Olímpicos desembarcou em Brasília após um esquema especial de transporte de Genebra para o Distrito Federal. Agora, tem a missão de percorrer 327 cidades e transmitir o espírito olímpico a um país abalado por crises política e econômica às vésperas dos Jogos.
Caças acompanharam a chegada do avião com a chama olímpica (Foto: João Gabriel Rodrigues)
A chama olímpica deixou Genebra na noite de segunda-feira, horário local. Durante o voo, as quatro lamparinas acesas com o fogo olímpico foram cuidadas por guardiões treinados anteriormente. No avião, estavam Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil e do Comitê Rio 2016; Giovane Gávio, bicampeão olímpico com a seleção de vôlei; convidados de patrocinadores e da organização, como as celebridades de redes sociais Maju Trindade e Thainara OG; os criadores da tocha, Gustavo Chelles e Romy Hayashi, e jornalistas. Durante a parte final do viagem, a aeronave foi acompanhada por dois aviões de caça da Força Aérea Brasileira.
Antes de descer do avião com as lamparinas, Nuzman fez um discurso emocionado para todos presentes no voo. Do aeroporto, o dirigente seguirá para o Palácio do Planalto, onde haverá uma cerimônia com a presença da presidente Dilma Rousseff. A governante acenderá a tocha na pira olímpica e passará para as mãos de Fabiana, capitã da seleção brasileira de vôlei e bicampeã olímpica. A jogadora foi escolhida pela própria presidente, que desejava que a primeira atleta a carregar a tocha fosse uma jogadora da equipe que buscará o terceiro ouro seguido no Rio.
Carlos Arthur Nuzman desembarca com o fogo olímpico: dirigente se emocionou antes de descer (Foto: Raphael Andriolo)
O caminho da tocha rumo ao Brasil foi marcado pela esperança de que o símbolo poderá unir um país dividido. Presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach afirmou esperar que o símbolo ajude a melhorar os ânimos da população. Carlos Arthur Nuzman adotou o mesmo discurso.
– Os índices que temos de popularidade dos Jogos no Rio de Janeiro estão na faixa de 75%, que é superior a outros Jogos. A chegada da chama e da tocha certamente vai trazer um interesse maior, porque a população começa a vivenciar não só notícias, mas também as emoções daqueles que participam, que vão contar suas histórias. É uma alegria muito grande começar a caminhada em direção ao Brasil, onde vamos poder oferecer a 12 mil condutores da tocha momentos de enorme felicidade e poder unir o Brasil todo em torno dos Jogos Olímpicos. É um dos momentos especiais que estamos vivendo – disse Nuzman.
Giovane Gávio e os caças da escolta: chegada da Chama Olímpica foi cercada de emoção (Foto: João Gabriel Rodrigues)
Apesar de todo o esquema especial, o caminho até o Brasil foi tranquilo. Sem grandes turbulências, a maior parte dos passageiros aproveitou o tempo para descansar. Os guardiões se mantiveram sentados nas primeiras fileiras da classe econômica. Após o assédio para fotos e filmagens no início da viagem, foram poucos os que se levantaram para acompanhar a chama durante o voo. Durante todo o tempo de viagem, as quatro lamparinas foram cuidadas pelos guardiões Humberto Freire, Alice Cardoso, Marco Elias e Marcelo Barros, escolhidos após um processo de seleção.
- Passaram a noite tranquila, tremularam como tinham de tremular. Logo depois da entrada, reduzimos a chama para que ficasse tudo tranquilo – disse Humberto.
- Não tem coisa melhor que passar a noite olhando uma coisa tão linda, tão honrada – disse Alice, alemã, mas de família brasileira.
Além deles, outros três guardiões foram treinados para o percurso entre as 327 cidades pelo Brasil. Eles terão a missão de acompanhar os 12 mil condutores da tocha no país. Por isso, entre as exigências do comitê, estavam a boa forma física e a capacidade de correr longas distâncias todos os dias.
- A gente deve cuidar da chama todo o tempo. Eles precisavam de pessoas que corressem muito, que falassem inglês e que tivessem disponibilidade. Então, não foi assim tão fácil para eles. Acabou sendo um boca a boca entre amigos e fui chamado para as entrevistas. Perguntaram se eu corria muito, se eu treinava, se me interessava a participar do revezamento durante 95 dias. Não sabíamos exatamente o que era. No fim, tivemos a sorte de sermos os guardiões da tocha – disse Diego Viana Gomes, professor de educação física na Universidade Federal do Rio de Janeiro e outro dos guardiões do chama.
Pelas normas de segurança da aviação, apenas quatro lamparinas eram permitidas no voo. Outras cinco serão usadas no percurso em solo brasileiro. Por proibição, não houve o abastecimento das lanternas durante o percurso. Os guardiões, então, precisaram se preocupar com o tamanho da chama para que o querosene durasse toda a viagem. Estavam treinados também para reacender a chama caso uma delas se apagasse. Não foi necessário.
Todos os guardiões passaram por treinamento específico da LATAM antes do voo. Apenas dois, porém, têm o certificado da companhia aérea para efetuar os procedimentos necessários durante a viagem de pouco mais de 11 horas entre Genebra e Brasília. Por isso, precisaram se revezar nas idas ao banheiro e nas horas de descanso rumo ao Brasil.
Logo ao amanhecer, jornalistas já estavam prontos para registrar chegada da chama olímpica (Foto: Raphael Andriolo)
Entre os presentes no voo, Giovane já havia vivido uma experiência parecida, durante o transporte da chama pan-americana para o Rio de Janeiro, antes do Pan de 2007. Primeiro brasileiro a carregar a tocha dos Jogos, durante a cerimônia de acendimento em Olímpia, no dia 21 de abril, o bicampeão olímpico se mostrou empolgado por fazer parte da viagem. Espera, porém, que o povo brasileiro saiba separar a tensão diante dos problemas políticos e econômicos do país da emoção de viver a experiência de sediar as Olimpíadas pela primeira vez.
- Eu acho que o movimento olímpico é algo muito grande também. As mudanças no Brasil são enormes e têm uma atuação direta na vida de muita gente, muita gente sofrendo e tendo dificuldades. Gosto de dizer que a vida da gente tem momentos bons e momentos ruins. Mesmo quando eu estava no pódio em Atenas, estava feliz da vida por ser bicampeão olímpico, mas triste porque tinha acabado. Nossa vida é assim. Estamos vivendo um momento delicado, com muitas mudanças políticas e econômicas na vida do brasileiro, mas estamos vivendo um momento olímpico que talvez nunca mais tenhamos uma oportunidade como essa e não podemos desperdiçar. Porque acho que pode ser um momento importante para o nosso futuro, para aproximar o jovem do esporte - disse o ex-jogador, que atendeu a vários pedidos de fotos durante o voo.
No voo, também esteve presente a carioca Lara Leite de Castro, primeira brasileira a conduzir a tocha olímpica na história, antes dos Jogos de Barcelona. Agora, ela, que mora em São Lourenço, em Minas Gerais, terá a chance de reviver o momento ao participar do revezamento nesta terça-feira, em Brasília.
- Vai ser a segunda vez que vou conduzir a tocha. Todo mundo sonha com a possibilidade de carregar a tocha, imagina duas vezes. A primeira vez foi muito bacana, há mais de 20 anos, antes das Olimpíadas de Barcelona, através de um concurso. Por ter sido a primeira brasileira, fui convidada novamente. Mas estou mais ansiosa ainda por ser no Brasil, no país da gente é sempre mais especial – disse.
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