terça-feira, 5 de abril de 2016

Clássicos no estado de São Paulo terão torcida única até o fim deste ano

Medida é anunciada nesta segunda, após morte e brigas antes e depois do clássico de domingo. Além de veto a organizadas, haverá mudança na venda de ingressos



Até o fim deste ano, todos os clássicos disputados no estado de São Paulo envolvendo Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos serão disputados com apenas uma torcida no estádio, a do time mandante. A medida, pedida pelo Ministério Público à Federação Paulista de Futebol, foi anunciada no início da noite desta segunda-feira após reunião realizada na Secretaria de Segurança Pública, no centro da capital paulista.
Isso deve acontecer pela primeira vez na fase semifinal do Campeonato Paulista, marcada para o dia 24 deste mês, quando os quatro grandes clubes paulistas podem se encontrar em disputa eliminatória de jogo único.
Secretaria de Segurança Pública SP violência torcidas (Foto: Yan Resende)Medidas para o combate à violência no futebol foram anunciadas na Secretaria de Segurança Pública (Foto: Yan Resende)





A ação aconteceu no dia seguinte à morte de uma pessoa em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, durante briga entre torcedores de Palmeiras e Corinthians, que disputaram no Pacaembu, na zona oeste, um clássico válido pela 14ª rodada do Paulistão. Em confronto antes e depois do jogo, quase 60 integrantes de torcidas organizadas foram detidos.
homem morto em confronto de torcidas (Foto: Helio Torchi/Simapress/Estadão Conteúdo)Vítima morta na zona leste não participava da briga, segundo a PM (Foto: Helio Torchi/Simapress/Estadão Conteúdo)

A Inglaterra é o país mais citado em relação ao combate à violência das torcidas organizadas. No início da década de 80, por causa da má conduta dos hooligans, os clubes ingleses foram proibidos de disputar competições europeias por cinco anos. Na ocasião, houve também forte repressão policial e isolamento das facções. Na Argentina, após um 2013 violento, todos os jogos passaram a ter torcida única.
No Brasil, em 2013, a federação gaúcha chegou a marcar um clássico entre Grêmio e Internacional somente com torcedores tricolores, mas a decisão da Brigada Militar do RS foi revertida. No ano seguinte, em Minas Gerais, por causa de brigas entre seus próprios torcedores, o Cruzeiro abriu mão de sua parte de ingressos em algumas partidas contra o Atlético-MG. No ano passado, as autoridades paulistas cogitaram que Palmeiras e Corinthians jogassem apenas para palmeirenses na arena alviverde, mas a ideia não progrediu.
Mais duas medidas
Em entrevista coletiva, o secretário de segurança pública do estado, Alexandre de Moraes, e o promotor Paulo Castilho, do Ministério Público, também anunciaram que todas as torcidas organizadas estão proibidas de entrar nos estádios paulistas com faixas, instrumentos ou qualquer utensílio que as identifique. Isso vale para todas as partidas no estado, não só clássicos, também para torcedores de times de outros estados que jogarem em São Paulo.
A terceira medida anunciada, mas que só valera a partir do Campeonato Brasileiro, em maio, é a proibição de doação de ingressos dos clubes para as torcidas organizadas. Para isso, toda a comercialização de bilhetes para jogos no estado será feita somente pela internet, sem venda em bilheterias.
– Nenhuma medida será mágica, mas acreditamos que esse conjunto será efetivo. Já reduzimos a violência dentro dos estádios... Vamos seguir tomando medidas para que tenha efeito também fora deles – disse o secretário Alexandre de Moraes.
briga torcidas corinthians palmeiras (Foto: Helio Torchi/Simapress/Estadão Conteúdo)Barras de ferro, de madeira e rojões foram apreendidos no domingo (Foto: Helio Torchi/Simapress/Estadão Conteúdo)
Torcedores identificados
Segundo a SSP, quase 50 pessoas foram identificadas nas brigas de domingo através de câmeras de segurança do metrô. Além disso, o Ministério Publico pedirá que a organizada palmeirense Mancha Alvi Verde e a corintiana Camisa 12, identificadas na confusão, respondam judicialmente pelo crime de vandalismo.
– A impunidade alimenta a criminalidade das torcidas. O modelo de hoje incita a violência entre elas, mas o cerco está se fechando – afirmou o promotor Paulo Castilho.
Apesar das identificações, todos os 57 torcedores detidos antes e depois do clássico foram soltos após prestar depoimento ainda no domingo. Moraes acredita que houve um erro de tipificação.
– No momento em que houve o crime, eu entendo a tipificação pelo artigo 41 (promover tumulto, praticar ou incitar a violência), mas, olhando posteriormente, com mais calma, eu tipificaria por participação em homicídio por dolo eventual – opinou o secretário, que classificou a legislação atual como "arcaica e extremamente frágil".

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