terça-feira, 20 de outubro de 2015

Da tragédia ao acesso: Brasil-Pel se reergue em 6 anos com "novo status"

Clube superou acidente com ônibus da delegação e rebaixamento no estadual para coroar reestruturação com bicampeonato no Gauchão e vaga na Série B em 2016




O cenário é o mesmo, assim como a mobilização dos xavantes, aglomerados nas arquibancadas. E as semelhanças param por aí. Em 16 de janeiro de 2009, a comoção da torcida se traduzia em lágrimas, derramadas pela perda de três profissionais na tragédia com o ônibus da delegação, velados dentro de casa. Em 18 de outubro de 2015, último domingo, o choro materializava a alegria de saudar os heróis do acesso à Série B de 2016 no Bento Freitas. Seis anos e nove meses separam as duas datas, emblemáticas na história do Brasil de Pelotas. Período curto, mas suficiente pra o clube se reerguer das ruínas após o traumático acidente e alcançar "novo status" no Rio Grande do Sul.
O Xavante, de fato, fez história em âmbito estadual ao conter o Fortaleza diante de mais de 60 mil pessoas no Castelão, no último sábado, para assegurar a vaga à segunda divisão, após o 1 a 0 no jogo de ida. Devolve aos gaúchos um representante na Série B nacional, fato que não ocorria desde o rebaixamento do Juventude, em 2009, e volta à competição que não disputava desde 2000, no Módulo Amarelo da Copa João Havelange. Mais do que isso, coroa a reestruturação capitaneada pelo técnico Rogério Zimmermann e vivida desde junho de 2012,.
- O Brasil fez um jogo e uma classificação históricas. O time nunca havia jogado com 62 mil pessoas. Se você pensar que foi de uma tragédia que aconteceu lamentavelmente até o momento de glória, foi de uma rapidez impressionante. Esse acesso foi, para mim, a realização de um sonho. Eu sempre lutei, mas não tinha a convicção de conseguir tão rápido. Tivemos passagem meteórica na Série D, depois pela Série C. Nós realizamos um sonho - afirma ao GloboEsporte.com o vice de futebol Cláudio Montanelli.
Jogadores Brasil de Pelotas (Foto: Brasil-Pel/Divulgação)Jogadores Brasil de Pelotas festejam o acesso á Série B (Foto: Brasil-Pel/Divulgação)


Tragédia e queda no estadual
Antes de celebrar os louros do sonho meteórico, é preciso resgatar o passado, retornar ao doloroso ano de 2009, para entender a magnitude do feito. Em janeiro, um acidente com o ônibus da delegação matou três integrantes do clube: o ídolo histórico Claudio Milar, o zagueiro Régis e o preparador de goleiros Giovani Guimarães. Desmantelado, o clube lutou, mas não angariou forças para reagir no Gauchão daquele ano e caiu para a Divisão de Acesso.
O Xavante permaneceu na segunda divisão estadual até 2013. O marco da disparada rumo à glória atual pela Série B, porém, surgiu um ano antes e atende pelo nome de Rogério Zimmermann. O treinador chegou como um sopro de ânimo para reerguer a equipe, em junho de 2012. 
brasil de pelotas acidente especial cinco anos montagem (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com)Acidente com a delegação causou três perdas em 2009 (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com)

Continuidade rende acessos, títulos e apelido de "Xavanchester United"
Zimmermann plantou a semente de um planejamento de continuidade e longevidade do elenco que, hoje, rende o apelido de "Xavanchester United". A alcunha se deve à continuidade do grupo, que tem sua base mantida desde então e, sobretudo, do técnico, peça fundamental para a permanência dos atletas. Muitos receberam propostas superiores nos últimos anos, de outros clubes do Interior. Mas ficaram para fazer história, como no último sábado.
O primeiro ano de Zimmermann no cargo não trouxe o sonhado retorno á elite gaúcha, mas selou o pacto do elenco para reerguer o Brasil. E logo de cara com título, da Copa Sul-Fronteira, no segundo semestre. O acesso viria um ano mais tarde, motivo de festa - a primeira de tantas subsequentes - que parou a cidade de Pelotas, com o título da Divisão de Acesso, em 2013.
Ali, o clube galgava seu primeiro degrau rumo ao "novo status" alcançado com a Série B em 2016. E já dava vazão à filosofia de manter o elenco a cada ano, marca registrada do trabalho da atual diretoria. Assim como a experiência. Leandro Leite, Washington, Wender, Cirillo, Nena e Fernando Cardozo. Todos "trintões" e remanescentes das primeiras temporadas sob o comando de Zimmermann são exemplos disso.
brasil de pelotas campeão divisão de acesso (Foto: Carlos Insaurriaga/Divulgação)Torcida invade o Bento Freitas para comemorar a vaga na elite estadual (Foto: Carlos Insaurriaga/Divulgação)
De volta ida à elite no ano passado, o Xavante fez bonito. Além de chegar à semifinal, levou o título simbólico de Campeão do Interior e a vaga na Série D. Não parou por aí. Alcançou a vaga na Série C, ficou com o vice-campeonato nacional e voltou a celebrar nas ruas de Pelotas. 
- São momentos históricos que o Brasil vem vivendo - resume Montanelli.
Ano árduo: 2015 reserva bi do Interior e dificuldades até acesso na Série C
O início da temporada atual soou tão promissor quanto os anos anteriores. De cara, o Xavante repetiu a campanha anterior no Gauchão: sagrou-se Bicampeão do Interior e chegou à semifinal. Ainda viveu momento histórico, ao reencontrar o Flamengo pela Copa do Brasil, 20 anos após a vitória sobre a equipe de Zico, pelo Brasileirão de 1985. A equipe acabou eliminada logo de cara. O prejuízo maior, porém, foi a interdição do Bento Freitas, após queda de parte da arquibancada atrás do gol.
Não bastasse, o clube deu vazão ao projeto de remodelar seu estádio, com a demolição de parte da arquibancada. No local, foram instaladas estruturas móveis, que custaram a ganhar liberação de parte dos Bombeiros. Foram três partidas sem o estádio, e, mais do que isso, sem a paixão do torcedor, principal combustível de suas conquistas. Em Pelotas, os apaixonados costumam dizer que a "torcida tem o time", e não o inverso. 
O Bento Freitas foi liberado para a reta final da primeira fase, mas com capacidade reduzida dos 15 mil para oito mil torcedores. Fator que travou o plano de sócios, estagnado em seis mil - a meta é de 10 mil. Além disso, com menos público, o clube teve dificuldades para manter a folha salarial em dia. 
Dificuldades financeiras à parte, o Xavante ainda perdeu seu ataque titular, Alex Amado e Leandrão, negociados após destaque pelo clube na Série C. Superou tudo isso com muita luta, coroada com o acesso à Série B.
- Chegamos a junho pensando em como iríamos terminar o ano com um rombo financeiro tão grande. Temos seis mil sócios. Isso dá R$ 250 mil. Não paga a folha do Brasil. Ainda perdemos a dupla de ataque, jogamos sem estádio. Por vários aspectos, foi uma classificação histórica. Poucas pessoas estavam lá. É gente que viajou nove mil quilômetros, entre ida e volta. Não é brincadeira enfrentar aquele Castelão socado de gente como tava. Foi de arrepiar.
Da euforia ao trabalho. Após a festa nas ruas de Pelotas, o Brasil foca no Vila Nova, adversário na semifinal, mesmo que com menos pressão, dada a vaga assegurada. O primeiro confronto com os goianos ocorre às 19h do próximo domingo, no Bento Freitas.
Festa torcida Brasil de Pelotas (Foto: Brasil-Pel/Divulgação)Festa da torcida recebeu o Brasil de Pelotas após acesso (Foto: Brasil-Pel/Divulgação)

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