Rotulado como jogador problemático, atacante lembra pretérito mais-que-perfeito
no Santos, o presente instável e busca futuro sem baladas e com ajuda profissional
Com
apenas - e não se engane - 24 anos, o atacante André já experimentou
praticamente de tudo dentro do futebol. Do estouro meteórico no Santos
ao lado de Ganso e Neymar ao afastamento no Atlético-MG passaram-se
apenas quatro temporadas. Espaço de tempo relativamente curto, mas
suficiente para que o jogador pudesse viver toda a sorte de verbos
diferentes e por vezes antagônicos. Subir, cair, acertar, errar, marcar,
amargar, badalar... André encontrou todas as consequências do "jogar"
futebol em alto nível. E, apesar desta amálgama de ações, o que resume
mesmo a montanha-russa da carreira do jogador são, ironicamente, os
tempos verbais.
André passa férias em sua casa de veraneio, em Búzios, Rio de Janeiro
(Foto: Gustavo Garcia)
Do
cume do presente, André observa as nuances e acidentes da estrada que
percorreu. Mais ao longe, forçando os olhos para não se esvair no
horizonte, está o pretérito mais-que-perfeito com a camisa do Santos, em
2010. Junto com Neymar, Ganso, Robinho e cia., André ganhava títulos e
atingia a fama com apenas 19 anos, escrevendo mais uma reedição dos
"Meninos da Vila".
- A gente não tinha noção do quanto a gente marcou, o quanto ia ficar
marcada aquela geração - disse André.
A convocação
para a Seleção sob o comando de Mano Menezes e posteriormente uma
proposta financeiramente irrecusável do Dínamo de Kiev, da Ucrânia,
pintavam um futuro promissor para um homem que ainda vivia os primeiros
anos da maioridade. Pintavam. A independência financeira do outro lado
do Atlântico contrastou com o novo momento da vida do atacante: o
pretérito imperfeito. Falta de sequência, frio e a saudade fizeram o
garoto retornar. O retorno - inclusive depois de uma rápida passagem
pelo Bordeaux, da França, reservou passagens pelo Santos, Vasco e
Atlético-MG (duas vezes). E o que era para ser o ressurgimento acabou se
transformando em ainda mais sofrimento. As polêmicas e o rótulo de
jogador baladeiro colaram no atacante, que, apesar de não entrar em
detalhes, admite todas elas. A mais recente foi no Galo, com o
afastamento - junto com o Jô e Emerson Conceição - após um ato de indisciplina dentro da concentração em novembro.
-
Acho que tudo que aconteceu foi bom para mim em um lado. Lógico que foi
uma situação muito chata, mas foi para eu repensar minhas coisas. Acho
que eu parei um pouquinho, pensei em tudo e comecei a ajustar minhas
coisas profissionais, em casa, tudo. Procurei ajuda de um psicólogo,
procurei a Fatto (Gestão) para cuidar da minha carreira - analisou o
jogador que também revelou que deu um basta definitivo nas saídas para
casas noturnas.
André agora só quer saber de pensar
no futuro. Mas qual futuro? Do presente ou do pretérito? Isso só o tempo
irá dizer. Enquanto isso, o atacante descansa - e dá sequência ao
tratamento psicológico - em sua casa de veraneio em Búzios, Região dos
Lagos do Rio de Janeiro, vizinha à Cabo Frio, sua cidade natal. O
atacante não vai se reapresentar com o grupo nesta quarta-feira e tem
uma reunião com a diretoria do Galo na próxima segunda para definir o
futuro. Foi na terra de praias paradisíacas que o atacante conversou com
a equipe do GloboEsporte.com e fez do seu lugar de lazer uma espécie de
divã.
André olha com carinho para a camisa que vestiu quando foi convocado para a Seleção
(Foto: Gustavo Garcia)
A entrevista - ou uma espécie de consulta - passeando pelo tempo você confere abaixo.
GloboEsporte.com:Você atuava na base da Cabofriense e foi
chamado para a base do Santos. Como foi sua ida para lá? Um menino novo,
longe de casa, longe da família.André: Foi difícil. Eu queria muito, né. Eu lembro que eu tive que pegar o “busão” sozinho, fui para Santos sozinho. Cheguei na rodoviária, só tinha o nome do cara que tinha que procurar e o endereço da Vila Belmiro. Peguei um táxi e fui para a Vila. Foi bem difícil, mas eu queria muito, cara. Queria muito. E me receberam muito bem. Logo de cara, eu não queria mais sair de lá. Queria ficar lá. Mas era complicado. Tinha época em que eu ficava dois meses sem vir para cá. Quando eu vinha, eu vinha na sexta e voltava no domingo. Mas eu gostava de lá.
E como era a bagunça dos Meninos da Vila?
A gente só queria brincar, zoar um ao outro, fazer sacanagem, pegar o carro do cara e ficar dando cavalinho de pau. Essas brincadeiras de moleque. A gente saía, almoçava às vezes na Vila. “Ah, vamos para o shopping para o povo ficar tirando foto da gente”. A gente ia. Era mais essa brincadeira de moleque mesmo. Essa questão de mulher, a gente nem se preocupava muito não.
Muito se fala que você só fez tanto gol assim no Santos porque tinha ali o Neymar, o Ganso, o próprio Robinho te ajudando. Afinal, era mais fácil, de fato?
Não vou dizer que era mais fácil. Isso aí é como eu te falei, fica marcado. Acho que foi o auge para mim, da minha carreira, e não só da minha. Eu ouço comparando o Ganso: “Ah, o Ganso não é o mesmo do Santos. O Wesley não é o mesmo do Santos, fulano não é o mesmo do Santos”. Mas as pessoas têm que entender que aquilo ali não foi um só jogador, foi um conjunto. Foi o auge de todo mundo. É difícil falar assim. É lógico que a gente se conhecia mais, a gente se entendia. Facilita muito você conhecer o cara fora de campo, dentro de campo. É igual hoje em dia, quando vou jogar contra o Ganso, eu sei o que ele vai fazer, o que ele gosta de fazer. Isso ajuda muito. Às vezes, fico vendo os jogos do Neymar e já sei que ele vai dar aquele corte e dar aquele chute por baixo da perna do zagueiro.
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