quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Ciente da pressão no retorno, Vadão diz ter recusado Ponte Preta pela Seleção



Vadão retornou na segunda-feira ao comando da seleção brasileira depois de 10 meses. O treinador assumiu a vaga de Emily, demitida na última sexta-feira. A saída da primeira técnica mulher a comandar o time feminino do país provocou uma grande repercussão e também resistência pela volta do antigo comandante, demitido em novembro de 2016. Ele diz estar preparado para a pressão que irá sofrer e afirma que só pode reverter isso com trabalho e resultados.
- A gente sabe que está havendo essa resistência. O futebol feminino sempre sonhou com uma mulher trabalhando no cargo e ficou quase que um ano no cargo. As coisas, por algum motivo, a CBF entendeu que tinham que mudar. E a nossa volta obviamente pega essa resistência toda que a gente acha perfeitamente normal e compreensível. Eu acredito que o que vai reverter isso é o trabalho, conquistar a vaga na eliminatória, que é algo importantíssimo. A gente tem aí um problema sério da eliminatória (Copa América) porque até agora não é data Fifa e todas as atletas selecionáveis, a maioria delas, quase que 80/90%, estão fora do país. A gente sabe que aí teria que construir uma nova seleção doméstica. Esse é o grande desafio para esse momento. Vamos ver se a gente consegue ajeitar o problema do calendário e ver se conseguimos uma liberação dessas que estão fora para participar. Se não, teremos que reconstruir tudo de uma hora para outra. Acho que é partindo disso. Trabalhando como a gente sempre fez. Eu tenho uma experiência grande dentro do futebol. São 25 anos de carreira e já vivi sob pressão muitas vezes. Essa é uma pressão diferente porque estou chegando e já está
Vadão, técnico do Brasil (Foto: Cíntia Barlem)
Vadão, técnico do Brasil (Foto: Cíntia Barlem)
Vadão esclareceu que estava acertado com a Ponte Preta e iria ser anunciado pelo clube da Série A na última quinta-feira. Mas, ao receber a proposta para retornar à seleção, de acordo com ele na quarta-feira passada, escolheu aceitar o convite da CBF por considerar um privilégio trabalhar na seleção brasileira - a reunião das atletas com Marco Aurélio Cunha, diretor de futebol feminino, pedindo a permanência de Emily ocorreu antes do segundo amistoso diante da Austrália. O objetivo é novamente buscar uma medalha de ouro. Garante que ainda não conseguir engolir a eliminação na semifinal diante da Suécia, no Rio, na Olimpíada em 2016.
- É bom deixar claro, mesmo para essas pessoas que estão criticando muito, que eu já tinha voltado para o futebol masculino, estava no Guarani. Recentemente tinha saído do Guarani e quando recebi o convite da CBF estava acertado com a Ponte Preta. Minha vida estava caminhando no futebol masculino como sempre foi. Aí você vai me perguntar: "porque se você já estava lá quis voltar?". Quis voltar porque acho que é um privilégio trabalhar na seleção. Fui convidado mais uma vez para ter mais uma chance de chegar ao Mundial, tentar novamente um Pan que a gente foi medalha e tentar chegar na Olimpíada. Como nós estamos sempre acostumados a curto prazo e aqui pode acontecer como aconteceu da última vez de estar a longo prazo e poder desenvolver. A gente vai tentar ver se consegue e passa a ser um sonho. Como todo o brasileiro, como todo o futebol feminino eu não consigo engolir aquela perda da vaga para disputar a final. Um jogo em que a gente chutou 30 vezes a gol, 70% de posse de bola e o jogo foi para os pênaltis. Ali já garantia a medalha de prata com chance de ouro porque estávamos muito bem preparados. É partindo desse princípio que a gente volta a trabalhar na CBF - afirmou Vadão, que já tem convocação na próxima sexta, pois o Brasil participa de um torneio na China em outubro (dias 19, 21 e 24) diante das donas da casa, México e Coreia do Norte.
O treinador comentou ainda as críticas sobre seu estilo de jogo e rebateu as acusações de que somente usa ligação direta em seu estilo dentro de campo. Ele coloca que a opção é apenas usada como plano B quando uma equipe exerce marcação sob pressão na seleção brasileira.
- É completamente errada essa avaliação. Primeiro, você pega a Olimpíada que foi a gota d'água para todo mundo. Se você pega todos os jogos é só olhar as estatísticas. Não precisa pegar o meu analista de desempenho da CBF. Pega as análises da Fifa mesmo de todos os jogos. Eu não me lembro se teve algum jogo durante a Olimpíada que a gente não teve mais posse de bola. Nossa equipe sempre saiu jogando. A única diferença que eles estão falando, dizendo, é que nós aprendemos isso nos amistosos contra as grandes equipes que há seleções, por exemplo como a Austrália, que é uma ótima seleção e provou nos últimos resultados, marcam muito forte a saída de bola. Então, às vezes, a alternativa de sair jogando fica inibida e você precisa ter um plano B. A partir do momento que uma seleção como a Alemanha, Estados Unidos, que às vezes se projeta para marcar pressão e não deixar você sair jogando, o que você faz: você não treina um plano B? Então aí sim você vai dar um chutão de qualquer jeito. Nós tínhamos treinamento para situação de emergência. Toda vez que uma seleção nos pressionasse muito, consequentemente, ela estaria adiantando sua linha traseira. A linha de frente pressiona sua defesa, vem o meio de campo, vem a zaga. Então você tem um campo muito grande atrás para você explorar. E como você tinha boas jogadoras de velocidade a gente trabalhou isso. E eu provo com imagens quantos gols nós fizemos assim com o plano B. Agora, você vai pegar o jogo da China, 3 a 0 para nós. A bola ficou o tempo inteiro conosco. Você pega o jogo da Suécia, 5 a 1, o tempo inteiro. Pega o jogo que saímos da Olimpíada. O tempo inteiro com a bola. Tocando a bola e saindo.
- A ligação direta é o plano B que vai continuar tendo. Eu não posso admitir que a gente, sendo pressionado, não tenha uma outra alternativa de jogo. Não vou forçar um negócio. Na Europa, você vê as equipes. Quantas bolas o Neymar recebe em lançamento longo. Algumas vezes o Neymar vai buscar a bola lá atrás e municia uma bola longa aos atacantes. Isso é uma coisa absolutamente normal. Aproveitar quando um adversário te pressiona e te dá um campo grande para você jogar nas costas. Essa observação que é feita por algumas pessoas é totalmente equivocada. Não precisa acreditar nas minha palavras. Pega o videotape e assista aos torneios que a gente disputou, à Olimpíada, assista aos jogos e analise para ver se a gente saía jogando ou não. Agora, plano B existia e vai continuar existindo.
Confira o restante da entrevista com Vadão:
Como você vê a questão das atletas terem escrito uma carta ao presidente da CBF em favor de Emily?
- Essa é a coisa mais natural do mundo. Eu acho louvável o que elas fizeram. Até porque nenhuma menina escreveu lá "eu não quero Vadão" até porque ninguém sabia, nem eu sabia. É louvável porque na minha carreira não ocorreu uma vez, mas aconteceram várias. Não abaixo-assinado, mas dos atletas se reunirem e pedirem "não tirem o Vadão". Acho que a atitude, seja quem encabeçou, Cristiane, Rosana, não tem problema nenhum. Nada a ver. Acho que é muito louvável as atletas assumirem que contribuíram, que erraram. Vi até uma declaração da Marta que ela falou: "Pô, dentro de campo a gente não deu o respaldo para a treinadora". Elas tentaram reverter esse caso pedindo uma oportunidade maior. Acho absolutamente normal. A mim não me incomoda em momento nenhum o fato delas terem feito isso. Até porque eu nem sonhava estar de volta. Quando aconteceu esse manifesto antes do jogo, porque parece que foi antes do jogo, não tinha recebido o convite ainda para voltar. Então, para mim, acho que a atitude foi muito legal das atletas.
- O Brasil jogou na terça. Eu estava em negociação com a Ponte. Na quarta-feira, recebi um comunicado se eu tinha acertado com a Ponte. Eu falei que estava finalizando meu contrato e assumiria a Ponte na quinta-feira. Aí me falaram: "vai haver uma mudança e você será convidado novamente para voltar". Eu conversei com a Ponte Preta e optei pela minha volta. Foi isso que aconteceu na quarta-feira por volta de 11h. Meio-dia eu recebi que a CBF tinha se reunido e entendido que tinha que mudar. Dentro dessa mudança eu seria o convidado. Eu, que já estava finalizando meu contrato com a Ponte, seria apresentado na quinta-feira, conversei com a diretoria da Ponte, eles entenderam e a gente voltou para a seleção brasileira.
Saída de Emily e críticas ao trabalho
- Eu até estranhei porque a Emily foi uma menina que, quando eu cheguei na seleção, ela trabalhava na sub-17 e sub-15. Naquele momento, talvez, ela até tenha pensado que a gente ia mudar tudo. E a gente ficou com ela aqui trabalhando conosco. Só saiu da seleção porque ela quis sair. Ela recebeu um convite do São José e entendeu que seria melhor para a carreira dela e foi mesmo. Ela chegou na seleção. Até estranho porque primeiro eu acho que nós nunca tivemos um problema. E segundo porque as comparações elas são muito relativas. É muito difícil porque se eu começar a falar de números aqui vou falar de números que me favorecem. Ela falou algumas coisas tipo que eu já perdi para a Austrália, também perdi para os Estados Unidos. Está bem. Mas se eu fosse me defender…eu joguei quatro vezes com os Estados Unidos. Venci uma, perdi uma e empatei duas. Estamos empatados. Joguei com a Austrália três vezes. Perdi uma no Mundial, ganhamos em Fortaleza o amistoso e empatamos na Olimpíada. Mas não levo em consideração. Acho que é um desabafo dela. Nosso trabalho está aí. Chegou até a sair coisas do tipo de que a outra comissão passeava (na primeira passagem de Vadão). É difícil alguém ter uma carga de trabalho que nós tivemos. Ficamos juntos um ano e meio. Ninguém ficou tanto com as meninas confinado ou no hotel ou Granja Comary. Eu acho que seria um desgaste desnecessário falar isso. Eu não deveria nem estar respondendo isso. Até fiquei surpreso porque eu nunca tive um problema com ela. Acho que até ela comparar: que o meu antecessor perdeu e não foi embora e eu perdi e fui é válido. Mas começar a falar coisas que a gente fez…o trabalho nosso está aí. Quando chegamos à seleção brasileira havia duas atletas fora do país, Bia e Marta. Hoje tem mais de 30 selecionáveis. Todo mundo viu o desenvolvimento do trabalho. A seleção permanente deu para as meninas uma condição física que elas não tinham aqui no Brasil. Hoje, todas elas jogam fora. Então foi visível a evolução. Em jogos oficiais, eu tenho 81% de aproveitamento contando torneios, Mundial, sem contar Olimpíada. Esses são os números. O número geral eu estou em 60 e poucos por cento. Até chato responder. Não vou ficar guerreando com algo que não tem sentido. Até porque a saída dela não está relacionada à minha vinda. A saída dela é a saída dela. Minha vinda foi um convite pós saída dela. Só fiquei surpreso vindo dela.

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