quarta-feira, 5 de junho de 2019

Reeleito presidente da Fifa, Infantino chora, promete mais dinheiro e "zero corrupção"

Reeleito presidente da Fifa, Infantino chora, promete mais dinheiro e
Ao som de "Seven Nation Army", o hit da banda White Stripes que embala a entrada das seleções em campo durante a Copa do Mundo, o suíço-italiano Gianni Infantino, de 49 anos, foi reeleito presidente da Fifa. Seu novo mandato vai até 2023. Ele ainda pode tentar mais duas reeleições, o que o deixaria no poder até 2031.

Nos últimos três anos, Infantino impôs um ritmo intenso de mudanças no futebol mundial, dentro e fora do campo. Sua reeleição sem concorrentes é avaliada como uma demonstração de poder e um indicativo que ele terá ainda mais respaldo para aprovar seus planos.

Não houve uma votação, portanto nunca se saberá exatamente quantos dos 211 votos possíveis Infantino teria. Uma mudança nas regras estabeleceu que, quando o candidato não tiver opositor, basta uma salva de palmas para consagrá-lo vencedor. Simbólico: a sugestão foi do xeque Salman Ibrahim Al-Khalifa, do Bahrein, derrotado por Infantino na eleição de 2016.

Ao agradecer os aplausos que significaram sua releição, Infantino chorou.

-- Hoje, eu amo todo mundo.

O Congresso da Fifa que o reelegeu ocorreu em Paris, cidade onde a entidade foi fundada em 1904, às vésperas da Copa do Mundo Feminina. O próximo congresso anual será em Adis Abeba, Etiópia.

Gianni Infantino durante Congresso da Fifa — Foto: Getty Images
Gianni Infantino durante Congresso da Fifa — Foto: Getty Images

Mais dinheiro, "tolerância zero com corrupção"

Antes disso, Infantino fez um discurso no qual falou "tolerância zero" com a corrupção. Para uma plateia formada por mais de 600 dirigentes de associações nacionais de futebol – cada um dos 211 filiados levou três representantes para o Congresso – Infantino declarou:

– Lembrem de quatro anos atrás. De três anos e meio atrás, quando eu fui eleito. Hoje ninguém fala em crise. Ninguém fala em escândalos ou corrupção. Nós deixamos de ser tóxicos, quase criminosos, para sermos o que deveríamos ser: uma organização que se importa com futebol.

O discurso foi interrompido por aplausos quando o presidente da Fifa falou sobre dinheiro.

– Quando eu cheguei aqui, a Fifa tinha US$ 1 bilhão em reservas. Um bom dinheiro. Mas hoje tem US$ 2,7 bilhões. Eu prometi um programa de financiamento para as associações nacionais e falaram que eu era louco. Nós distribuímos dinheiro para vocês, para o futebol. E não em acordos estranhos.

Infantino prometeu distribuir US$ 1,7 bilhão (cerca de R$ 6,5 bilhões) para as associações nacionais de futebol.

– O que nós vamos fazer com o dinheiro se não for para investir em futebol?

O ex-secretário-geral da Uefa comandará uma entidade em situação bem diferente da que ele encontrou em fevereiro de 2016, quando derrotou três candidatos e se tornou o décimo presidente da Fifa, o nobo europeu. O brasileiro João Havelange (1974-1998) foi a exceção.

Não foram poucas nem pequenas as mudanças pelas quais passou a entidade que controla o futebol mundial. A começar pelo que realmente importa, o jogo. A administração de Infantino tirou do papel o projeto do árbitro de vídeo e impôs mudanças grandes nas principais competições.

Copa inchada, novo Mundial de Clubes

A partir de 2026, a Copa do Mundo será disputada por 48 países, e não mais por 32, como ocorre desde 1998. O Mundial de 2026 também será o primeiro organizado por três países: EUA, México e Canadá.

Aumentar a Copa do Mundo era a principal promessa de campanha de Infantino. Embora tenha conseguido facilmente aprovar a mudança para 2026, Infantino não obteve sucesso ao tentar antecipar o inchaço para a Copa de 2022, no Catar. A proposta esbarrou em problemas geopolíticos sobre os quais a Fifa não tem controle: o bloqueio econômico que os países como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos impuseram ao Catar, e que parece longe de uma solução.

Infantino extinguiu a Copa das Confederações e mudou radicalmente o Mundial de Clubes. Os dois torneios eram considerados fracassos comerciais e técnicos pela própria Fifa, que a partir de 2021 vai substituí-lo por um anabolizado torneio de clubes, com 24 participantes (seis da América do Sul), organizado a cada quatro anos, sempre um ano antes da Copa do Mundo.

Copa das Confederações, disputada pela última vez em 2017, foi extinta pela Fifa — Foto: Grigory Dukor/Reuters
Copa das Confederações, disputada pela última vez em 2017, foi extinta pela Fifa — Foto: Grigory Dukor/Reuters

A criação de novo Mundial de Clubes, assim como o inchaço da Copa do Mundo, foram aprovados apesar das reclamações da ECA, a Associação dos Clubes Europeus, que ameaçou boicotar o torneio. Infantino resolveu comprar a briga com os times ricos.

– No final, todos vão participar – disse em entrevista ao GloboEsporte.com em abril deste ano.

Empoderado pelo novo mandato, Giannis Infantino deve pisar no acelerador em sua agenda de mudanças. O dirigente quer implantar uma Liga das Nações, nos moldes do que fez a Uefa, tanto para homens quanto para mulheres, além de criar um novo Mundial Sub-18, que substitua os atuais torneios Sub-17 e Sub-20.

Salários públicos, votações abertas

A Fifa também passou por uma reforma administrativa nos últimos anos. O Comitê Executivo, que era formado por 24 pessoas e tomava as decisões importantes, como escolher a sede das Copas do Mundo, foi dissolvido. Em seu lugar, a Fifa criou um Conselho, com 36 integrantes indicados pelas confederações nacionais – com a obrigação de haver pelo menos uma mulher representando cada continente.

De fato, a entidade adotou um estilo menos suntuoso (mas não exatamente austero) depois dos escândalos de 2015, que resultaram na prisão ou no banimento dos cartolas mais poderosos do futebol mundial. Um exemplo prático: até então, os cartolas só se deslocavam em luxuosos sedãs pretos. Os carrões foram substituídos por vans. Saíram os motoristas particulares, entraram as "excursões".

Infantino também abriu os salários dos executivos da entidade (ele ganhou US$ 1,9 milhão em 2018) e mudou a forma de escolha das sedes da Copa. No ano passado, a candidatura de EUA, México e Canadá derrotou Marrocos numa votação da qual participaram todos os filiados.

– Uma sede da Copa do Mundo escolhida sem escândalo? Sem corrupção? Ué, não é a Fifa? Não. Porque o processo foi transparente. É a nova Fifa – discursou Infantino.

O fato de a eleição ter sido aberta, com votos tornados públicos logo após o resultado, desnorteou o então presidente da CBF, Antônio Carlos Nunes. O cartola contrariou o acordo feito pela Conmebol com os EUA e votou no Marrocos, a candidatura derrotada. O voto atrapalhado do Brasil desatou uma crise diplomática que repercute até hoje na Fifa.

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