sexta-feira, 29 de março de 2019
Jogar na NFL faria de Kane um dos maiores atletas de todos os tempos?
No Super Bowl LIII, em fevereiro, entre os mais de 70 mil torcedores presentes no Mercedes-Benz Stadium, lá estava Harry Kane, devidamente fardado com uma camisa de Tom Brady, astro do New England Patriots.
Uma rápida busca pelas redes sociais e é fácil encontrar Kane em anúncios e reportagens brincando de jogar futebol americano, correndo para receber um passe longo (de bola oval) e até mergulhando para marcar um touchdown (de mentirinha, claro). Aliás, um dos cachorros de Kane se chama Brady, o que dá ideia da admiraão do inglês pelo americano.
É engraçado. De verdade, aquele humor meio pastelão irresistível com Kane um tanto desengonçado tentando dublar um wide receiver. É por isso que dá uma certa vontade de rir quando Kane diz que vai trocar um esporte de primeiríssima linha para tentar repetir o sucesso em outro idem.
O maior jogador de basquete de todos os tempos tentou. Mas a carreira de Michael Jordan no beisebol não passou de uma aventura, uma realização pessoal sem nenhuma relevância esportiva. Não seria inédito se tivesse dado certo. Deion Sanders, que está no Hall of Fame da NFL, disputou a World Series da Major League Baseball pelo Atlanta Braves.
O sonho de Kane, declarado esta semana em entrevista a ESPN, é se tornar um kicker daqui uma década, quando parar com o futebol. O kicker, ou chutador na tradução literal, não é lá das mais nobres posições do futebol americano, inclusive costuma ser o menor salário do time. Porém, temos que admitir que chutar é uma coisa que Kane sabe fazer bem.
Harry Kane Tottenham NFL — Foto: Reprodução / Twitter
Dos 36 pênaltis que cobrou na carreira pelo Tottenham e seleção da Inglaterra, Kane acertou 30. Se é que essa comparação vale de alguma coisa. Porque por um lado futebol americano não tem goleiro, por outro, a distância do chute (quase sempre) será bem maior.
Outros bons chutadores já tentaram seguir o mesmo caminho. Impossível não se lembrar de Adhemar, artilheiro do São Caetano, que chegou realmente muito perto de se tornar um kicker na NFL em 2006. Apenas 10 anos mais tarde realizou o sonho, mas numa liga menos badala -- a São Paulo Football League, pelo São Caetano Blue Birds.
Até hoje, o único brasileiro que chegou lá é Cairo Santos, que está na NFL desde 2014. Atualmente Cairo é o kicker do Tampa Bay Buccaneers. Mas esse é o esporte do Cairo, ele nunca jogou futebol (o nosso) profissionalmente.
Cairo Santos Tampa Bay Buccaneers NFL — Foto: Will Vragovic / Stringer
O maior exemplo de sucesso nos campos dos dois futebóis (com o perdão do palavrão) é Toni Fritsch.
Foi jogador do Rapid Viena, onde conquistou três campeonatos nacionais, e defendeu a seleção da Áustria. Chegou inclusive a marcar dois gols na Inglaterra em pleno estádio de Wembley nos idos de 1965. No auge da carreira, aos 26 anos de idade, foi para a NFL, onde jogou (também como kicker) de 1971 a 1982. Fritsch ganhou o Super Bowl VI pelo Dallas Cowboys.
Um caso recente foi o do kicker (sempre) do Jacksonville Jaguars, Josh Lambo, que em 2012 passou por um período de experiência como goleiro do Sheffield United, na Inglaterra. Há outros casos, com o do irlandês Neil O'Donoghue, que jogou profissionalmente pelo Shamrock Rovers antes de passar oito anos na NFL como -- advinhem? -- kicker.
Por isso a pergunta de Kane é tão difícil de ser respondida. "Se você jogar na Premiere League, disputar Copa do Mundo e depois jogar na NFL, você seria considerado um dos maiores atletas de todos os tempos?"
Certamente, Kane, você ganharia um lugar de destaque na galeria dos grandes.
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