quarta-feira, 7 de março de 2018
O fracasso do PSG na Champions e uma estranha lógica de como funciona um clube
A ausência de Neymar do jogo mais importante de sua carreira recente - e da história do PSG - levantou vários debates sobre a influência do camisa 10 da Seleção no jogo do time parisiense. Ele torna o time “individualista”, viciado em jogar a bola para ele resolver os problemas do jogo? Sua ausência seria uma espécie de “alívio” e faria finalmente jogar bem coletivamente (o que aconteceu ano passado no 4x0 no Barcelona e no 2x2 no mesmo Barça, sob comando de Carlo Ancelotti)?
Contratar a estrela do maior rival, tirar um dos melhores jogadores do mundo do Barcelona, fazer pré-temporada na Ásia e pintar a Torre Eiffel de azul são ações de marketing. Ações que criam valor sob uma marca, a “marca” PSG. O jogo é de outra ordem, a ordem do futebol, e não basta empilhar talentos ou tentar encaixá-los num contexto. A origem da contratação precisa obedecer um critério: o técnico, não o marketeiro.
Isso vale inclusive para Neymar. Quando contratato, ele estava inserido dentro da ideia de jogo de Unai Emery? Estamos falando de Neymar, um craque - e sim, até esse talento em estado bruto e maduro precisa atender a critérios objetivos de como se quer jogar e como ele irá atuar com os companheiros. Parece e é simples, mas se toda contratação fosse feita obedecendo uma extensa análise de jogo, equipes como o PSG e o United estariam esportivamente melhores. Recentemente, Louis Van Gaal disse que o maior campeão inglês está mais preocupado com dinheiro do que títulos. É a estranha lógica que também gere o PSG.
Se já vinha sofrendo ofensivamente e viu Neymar isolado - e lesionado - em Madrid, na volta o PSG voltou a apostar nas associações de Daniel Alves e Dí Maria - o argentino atuou muitas vezes aberto, grudado em Marcelo e esperando Dani passar para soltar a bola. Como coletivo, vários problemas que você vê na imagem abaixo: o tripé de meio-campo fica estático e M’bappé e Cavani presos na linha defensiva. Qual é o plano para desequilibrar a defesa do Real Madrid? Veja que M’bappé sai nas costas de Ramos para infiltrar e receber o passe de Thiago Motta, mas o resto do time não acompanha.
PSG no ataque contra o Real Madrid (Foto: Leonardo Miranda)
É como se o jogo do PSG fosse igual ao ar: ele existe, mas ninguém vê. Não dá para enxergar muitas ideias coletivas além desse movimento individual de Daniel Alves virando volante. Com Neymar, fica ainda mais evidente: é ele que distribui, flutua e busca os espaços, é Thiago Silva que rebate todas, é Cavani que aproveita as brechas na defesa rival. Nomes e nomes, nenhuma "engrenagem" aí.
Real Madrid no 4-4-2 (Foto: Leonardo Miranda)
E o que o Real Madrid, de tantas individualidades, fez para fazer 5x2 no agregado? Adivinha? Coletivo! Zidane sabia que o PSG iria se soltar e apostou num meio-campo mais “marcador”. Um 4-4-2 que sabia que o PSG não ia explorar os espaços entre defesa e meio, então foi focar a pressão na frente, tirando Motta, Rabiot e Verratti do conforto.
O PSG saindo para o jogo no 1º tempo (Foto: Leonardo Miranda)
E a resposta do PSG? A mesma distância entre ataque e defesa, dificultando o passe. Os laterais abertos sem receberem, ou se recebem, sem condições de cruzar. Não foi um jogo ruim do PSG, foi um jogo “normal” que pode servir para o ambiente da Ligue 1, mas que fracassa sumariamente na Champions League porque o alto nível exige mais.
É hora de repensar a ideia e como as coisas são feitas em Paris. Talvez trocando a lógica do marketing pela lógica do futebol. Algo semelhante ao que o Manchester City fez ao contratar Guardiola. Afinal, de nada adianta Neymar se ele não recebe boas bolas - quando não está lesionado, é claro.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário