quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
Tão perto, tão longe: como um único gesto ameaça o "tratado de paz" entre Fla e Bota
Quando tudo parecia caminhar para um entendimento, a comemoração de um gol trouxe de volta problemas que tinham ficado em 2017. E, desta vez, a intriga ganhou o mundo. Na última terça-feira, jornais e sites internacionais como por exemplo o "The New York Times", dos Estados Unidos, noticiaram com surpresa o veto à decisão da Taça Guanabara no Estádio Nilton Santos – a maioria tratou o motivo, que foi a comemoração "chororô" de Vinícius Junior, como inusitado.
De fato, é realmente difícil entender quando não se sabe o contexto de uma rivalidade que aflorou na última década. O estopim foi a polêmica de Willian Arão em 2016, mas, desde então, tudo era motivo para discórdia: comemoração, estádios, provocações, redes sociais, brigas.. No entanto, todos esses conflitos estiveram muito próximos de serem deixados de lado. Os clubes vinham ensaiando o cachimbo da paz, mas não o acenderam. Tudo por conta de um único gesto.
Vinicius Jr. faz gesto de chororô em Flamengo 3 x 1 Botafogo (Foto: André Mourão / Estadão Conteúdo)
A aproximação
O cenário estava pronto. O encontro entre os presidentes Eduardo Bandeira e Carlos Eduardo Pereira, no “Seleção SporTV”, no ano passado, foi apenas o primeiro passo. A troca de poder no Botafogo, com Nelson Mufarrej na presidência, clareou o caminho.
Apesar de provocações, caso do Twitter do Botafogo após a final da Copa Sul-Americana, nos bastidores, aos poucos, os clubes começavam a falar a mesma língua. O maior motivo? O Flamengo tem interesse em usar o Estádio Nilton Santos . O Alvinegro vê com bons olhos uma grana extra.
CEP e Bandeira de Mello iniciaram aproximação durante programa do SporTV (Foto: Marcelo Baltar)
Em recentes encontros, o CEO rubro-negro, Fred Luz, e o vice executivo alvinegro, Luis Fernando Santos, começaram a costurar um acordo. Ainda que embrionário, Flamengo e Botafogo falavam em valores e na possibilidade de um acerto para o uso do Nilton Santos nos próximos três anos.
Na semana passada, foi levantada pelo próprio Flamengo a hipótese de ações conjuntas promovendo a paz, como, por exemplo, uma coletiva de ambos os presidentes. A sugestão foi vista com bons olhos pelo Botafogo, mas a ideia ainda não havia saído do papel.
Aí veio o clássico...
Bastou um clássico quente, entretanto, para mudar esse cenário. O gesto de “chororô” de Vinícius Junior, na comemoração do terceiro gol do Flamengo, pegou muito mal em General Severiano. Alguns dirigentes alvinegros ficaram revoltados em um camarote do Raulino de Oliveira, e houve quem revidasse a provocação com o dedo do meio em riste.
Nesta segunda-feira de carnaval, a cúpula alvinegra se reuniu e bateu o martelo para a decisão, de certa forma, surpreendente e radical diante do cenário do futebol carioca: não cederá o Nilton Santos para a final da Taça Guanabara, entre Flamengo e Boavista. O valor de R$ 100 mil de aluguel para jogos sem ser clássico já era conhecido desde o arbitral, mas dirigentes consideraram que não valeria a pena diante da possibilidade de ver o rival, neste momento, podendo ser campeão na sua casa.
Para o veto, o Botafogo se valeu do parágrafo II do artigo 44 do regulamento do Carioca:
"II - As partidas dos clássicos, do campeonato deverão ser realizadas no Maracanã, no Estádio Nilton Santos ou Estádio Raulino de Oliveira, a critério do mandante e aquiescência do gestor do Estádio, de acordo com critérios a serem definidos em reunião própria, cuja ATA fará parte deste regulamento, com torcida dividida (50% para cada clube), salvo acordo entre as partes neste último caso".
Confusão envolveu jogadores no fim do clássico por causa do gesto (Foto: André Durão)
O gesto de "chororô" foi o grande motivador do veto. Um dirigente alvinegro, por exemplo, disse que a única possibilidade de rever a situação seria caso o Flamengo convocasse uma coletiva para se desculpar, com a presença de Vinícius Junior. O Rubro-Negro, por sua vez, não sinaliza com essa intenção por entender não ter motivos, uma vez que a provocação partiu de um jogador.
O Fla, inclusive, foi pego de surpresa. Na noite de segunda-feira, um dirigente lamentou que o fato tenha posto a perder todo o trabalho de bastidores para reaproximar as duas diretorias. Outra parte que ficou contrariada com a situação, a Ferj emitiu nota dizendo que “o Botafogo não pode se apequenar”. Não adiantou, e a decisão da Taça Guanabara será em Cariacica.
Como será o amanhã...?
Por não ser mandante da final, o Flamengo apenas acompanhou os desdobramentos da decisão tomada pela cúpula alvinegra nas últimas horas. Apesar do veto à final da Taça Guanabara ter sido amplamente reprovado no Rubro-Negro, sobretudo pela motivação citada, não está descartada uma retomada de diálogo adiante.
Sem o Maracanã, programado para shows musicais pelos próximos meses, o Nilton Santos seria a melhor opção para o Flamengo, principalmente na Libertadores, uma vez que o regulamento não permite partidas em um estado diferente da sede do mandante. Se em outros jogos em que saiu vencedor o Rubro-Negro fez brincadeiras com o Botafogo, desta vez nenhuma piada foi feita nos canais oficiais.
Luis Fernando Santos (dir.) é o elo com o Flamengo nas negociações (Foto: Marcelo Baltar)
No Botafogo, a maioria foi a favor do veto à final no Nilton Santos, mas a nota oficial divulgada pelo clube, apontando a motivação para a decisão, dividiu opiniões internamente, assim como em muitos torcedores nas redes sociais. Fato é que o Alvinegro tem em seu estádio uma forma de potencializar os lucros, e parte dos dirigentes defende a reaproximação com o Flamengo.
Desde que "pagando um bom aluguel" e em datas que não coincidam com os jogos do Botafogo. Porém, há quem admita que qualquer acordo agora ficou muito mais difícil de ser fechado. Elo na negociação com o Flamengo, o vice executivo Luis Fernando Santos estava viajando nos últimos dias e pode ser a chave para a retomada do diálogo com o Rubro-Negro.
Será que um dia sai o "tratado de paz"?
Relembre outras provocações
Perfil do Botafogo comemorando a classificação em primeiro lugar na fase de grupos da Libertadores do ano passado e ao mesmo tempo alfinetando o rival pela eliminação na mesma etapa. Na mesma época, jogadores alvinegros também alfinetaram.
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