sexta-feira, 10 de novembro de 2017
Sem Guerrero, Peru conta com eficiência de Flores, Farfán e Cueva para ir à Copa
Sem disputar uma Copa do Mundo desde 1982, o Peru terá que superar a ausência de Paolo Guerrero, suspenso provisoriamente pela Fifa por doping pelo período de 30 dias, para bater a Nova Zelândia, no duelo de repescagem mundial das eliminatórias. O camisa 9 é importante, mas não joga sozinho: a eficiência de Farfán e do jovem Flores, junto ao protagonismo de figuras conhecidas dos brasileiros, como Cueva, Trauco e Yotún, podem garantir o passaporte para a Rússia em 2018.
O Espião Estatístico* preparou um diagnóstico do confronto a partir das campanhas de Peru e Nova Zelândia nas eliminatórias continentais para avaliar como as seleções vêm para os dois jogos decisivos. A partida de ida acontece na madrugada de sexta-feira para sábado, em Wellington, na Nova Zelândia. O jogo de volta será na madrugada de quarta para quinta-feira da semana seguinte, em Lima, no Peru.
Quem resolve na ausência de Guerrero?
Guerrero é artilheiro, líder de participações em gols, referência técnica, capitão e carrega experiência internacional. Mas o técnico Ricardo Gareca não precisa arrancar os cabelos: o desempenho nas eliminatórias sul-americanas credencia outros nomes a chamar a responsabilidade.
A maioria das esperanças do time sem o centroavante jogou ou ainda atua em clubes brasileiros. O são-paulino Cueva é o homem de criação do meio-campo, joga mais centralizado, marcou quatro gols e distribuiu três assistências ao longo das eliminatórias.
Cueva e Édison Flores celebram gol: parceria deu certo nas eliminatórias sul-americanas (Foto: AFP)
A lateral esquerda é preenchida por Trauco, que hoje reveza com Renê no Flamengo, mas é titular absoluto na seleção. Isso porque Yotún - aquele mesmo que não deixou saudades no torcedor vascaíno - se encontrou de vez atuando como volante. Inclusive, é quem mais deu assistências para gols no Peru ao longo das eliminatórias (foram quatro) e tem se destacado em lançamentos longos e bolas paradas. Aos 27 anos, Yotún atua no Orlando City, dos Estados Unidos, após jogar até Liga dos Campeões pelo sueco Malmö.
Peruanos mais decisivos - Eliminatórias 2018
Jogador Jogos Gols Assistências Participação em gols
Paolo Guerrero 17 6 2 33,33%
Cueva 16 4 3 29,16%
Édison Flores 12 5 1 25%
Yotún 13 0 4 16,66%
Fonte: Espião Estatístico
O caminho das pedras também pode estar nas pontas. O experiente Farfán, do Lokomotiv Moscou, revezou com Carrillo, do Watford, na direita, mas quem brilhou foi a revelação Édison Flores, na esquerda. Aos 23 anos, Flores atua pelo dinamarquês Aalborg, participou de um a cada quatro gols do Peru* nas eliminatórias e só foi às redes menos que Paolo Guerrero. Gareca esboçou o ataque titular com Carrillo na direita, Cueva no meio, Flores na esquerda, e Farfán no lugar de Guerrero.
* O cálculo foi feito a partir dos 24 gols marcados pela seleção peruana nas eliminatórias. Após punição decretada pela Fifa à Bolívia, o Peru foi declarado vencedor do confronto da 7ª rodada e teve três gols acrescentados na campanha.
Farfán é abraçado por Guerrero: ponta direita ex-Schalke 04 deve ser o centroavante na ausência do capitão (Foto: AP )
Paolo Guerrero foi o jogador mais utilizado na seleção peruana durante as eliminatórias da América do Sul: 1.565 minutos em campo - o que reforça sua importância. Ficou fora apenas da vitória por 2 a 1 em casa sobre a Bolívia, pela 15ª rodada. Cueva aparece como o segundo atleta com mais tempo de jogo no torneio - foram 1.358 minutos em 16 partidas. O terceiro é o goleiro Gallese, com 1.330.
Pontaria calibrada: Guerrero? Não, Édison Flores
O Peru teve o terceiro melhor desempenho em finalizações nas eliminatórias, atrás apenas de Brasil e Uruguai, líderes e os dois melhores ataques da competição. Não é pouco, se considerarmos setores ofensivos como os de Argentina (Messi, Di María, Dybala, Higuaín), Chile (Vargas e Alexis Sánchez) e Colômbia (Falcao García, Bacca, James Rodríguez).
A eficiência das finalizações, que mede a porcentagem dos arremates que se tornam gols, mostra que a seleção peruana pode se fiar nessa boa marca para bater a Nova Zelândia, que costuma jogar mais fechada, explorando contragolpes. Em poucas tentativas, se forem eficazes como nas eliminatórias, os comandados de Gareca podem conseguir gols fundamentais para uma classificação longe de casa.
Peru só perde para Brasil e Uruguai em eficiência nas finalizações. Argentina de Messi é última do ranking (Foto: Espião Estatístico)
A grande questão é: sem Guerrero, essa eficiência ofensiva cai? Cai, mas não muito. Paolo finalizou 51 vezes e marcou 6 gols. Sua eficiência é de 11,76%, nada muito distante dos 11,65% da seleção como um todo. Então, comparemos aos principais artilheiros do time nas eliminatórias.
Eficiência em finalizações - Peruanos nas Eliminatórias 2018
Jogador Finalizações Eficiência
1. Édison Flores 15 33,33%
2. Farfán 15 20%
3. Cueva 27 14,81%
4. Paolo Guerrero 51 11,76%
Fonte: Espião Estatístico
Édison Flores anotou, simplesmente, um gol a cada três finalizações. Farfán atuou em seis oportunidades, mas fez bem sua parte. Cueva é o terceiro no ranking, fechado por Guerrero. Com os três líderes do quesito em campo, a eficiência da equipe tem boas chances de ser mantida.
Deficiência peruana na bola parada
Se o ataque pode funcionar mesmo sem a ajuda de Guerrero, a defesa precisa consertar um problema grave das eliminatórias. O Peru foi a seleção com mais gols sofridos a partir de bolas paradas aéreas. Foram 7 dos 28 sofridos* ao longo do período, o que significa que um a cada 4 gols acontece por vacilos em jogadas mais previsíveis, em termos de marcação, e com zaga recomposta.
*Apesar de a tabela das eliminatórias sul-americanas indicar 26 gols sofridos, foram contabilizados os dois sofridos na partida diante da Bolívia, pela 7ª rodada. O resultado foi anulado, e o Peru ganhou o confronto por 3 a 0 após escalação irregular na equipe boliviana.
Peru é o país sul-americano que mais levou gol em lances de bola parada pelo alto nas eliminatórias (Foto: Espião Estatístico)
O problema é mais grave se levarmos em conta o papel de Guerrero no auxílio à defesa em lances de bola parada, pela boa estatura (1,85m). Essa deficiência casa justamente com uma das virtudes da Nova Zelândia, que pratica futebol de força e ligação direta para a área por bolas alçadas.
"All Whites": torcida empolgada, volta dos pilares e olho em Wood
Invicta nas eliminatórias da Oceania, a Nova Zelândia chega ao duelo contra o Peru com a pretensão de se classificar pela terceira vez em sua história para uma Copa do Mundo (frequentou as edições de 1982 e 2010). No jogo de ida, em Wellington, as expectativas estão altas até mesmo por parte da torcida, que nem sempre prioriza o esporte por lá - a seleção de rúgbi costuma ser o xodó do país.
O jornal local "New Zealand Herald" destaca que os torcedores estão tratando o jogo deste sábado como "a partida de futebol mais importante dos últimos quatro anos" e que todos querem ver "o amarelo icônico das arquibancadas do Westpac Stadium virar um grande mar branco", cor tradicional do uniforme número 1 neozelandês.
Wood é o camisa 9: centroavante forte, alto e trombador, mas inegavelmente artilheiro - do Burnley e dos All Whites (Foto: REUTERS/Grigory Dukor)
Empolgação das arquibancadas e retornos de lesão dos principais pilares da equipe. O técnico Anthony Hudson não poderia querer um cenário melhor. Ele contará novamente com os zagueiros Reid, Smith e Durante, além do atacante, capitão e principal referência da equipe, Chris Wood. Todos estavam machucados e, agora, zerados para o duelo.
Campanha sólida, mas... serve de parâmetro?
Os All Whites tiveram trajetória quase perfeita nas eliminatórias continentais, com oito vitórias e três empates em 11 partidas. No play-off final, eliminaram as Ilhas Salomão com um categórico 6 a 1, após empate em 2 a 2 no jogo de ida. Foram 24 gols marcados e somente quatro sofridos. Wood foi o artilheiro da competição, com 8 gols. Mas... qual o nível de competitividade dos adversários?
Nesses 11 jogos, a Nova Zelândia enfrentou cinco adversários de pouca expressão (confira a posição atual deles no ranking da Fifa):
Nova Caledônia - 150º
Ilhas Salomão - 152º
Papua Nova Guiné - 159º
Fiji - 175º
Vanuatu - 188º
Difícil medir o nível dos neozelandeses contra países que praticam um futebol amador. A própria seleção de Wood e cia não está tão melhor na lista do que os rivais acima - está na posição 122. O Peru, por exemplo, figura num surpreendente décimo lugar. E mais: quando foi, de fato, desafiada, na Copa das Confederações de 2017, caiu na primeira fase, perdendo para Rússia (2 a 0), México (2 a 1) e Portugal (4 a 0).
Estilo de jogo: defesa aplicada e bola no Wood
Anthony Hudson adota um esquema mais defensivo, uma vez que não conta com muito talento no setor de meio-campo. A equipe costuma ir a campo no 5-3-2, com Wood mais isolado e um atacante de velocidade próximo. A defesa se fecha como pode. É comum que a bola circule pouco no meio-campo, e a estratégia seja lançar bolas ao ataque para Wood fazer o pivô, dar uma casquinha para quem vem de trás ou finalizar. As jogadas aéreas são bastante oportunas, uma vez que a criação de jogadas pelo meio é mais escassa. Wood (Burnley) e Reid (West Ham) atuam na Premier League e são ameaças em bolas paradas, graças às boas estaturas - 1,91m e 1,90m, respectivamente.
Anthony Hudson não se ilude com campanha nas eliminatórias da Oceania e pede melhor performance de toda a trajetória no jogo de ida (Foto: Getty Images)
O comandante está ciente do desafio e quer foco para a melhor exibição dos últimos tempos.
- O objetivo da nossa equipe é simples, precisamos ter o melhor desempenho de nossa campanha e, se fizermos isso, temos uma boa chance de nos qualificar para a Copa do Mundo - disse Hudson, em entrevista ao "New Zealand Herald".
Nova Zelândia x Peru
Local: Wellington (Wellington, Nova Zelândia)
Data e horário do jogo: Sábado (11/11), às 01h15
Transmissão: SporTV, com acompanhamento em Tempo Real do GloboEsporte.com
Jogo de volta: Quinta-feira (16/11) às 0h15, no Nacional do Peru (Lima, Peru)
*A equipe do Espião Estatístico é formada por: Caique Andrade, Eduardo de Sousa, Guilherme Maniaudet, Guilherme Marçal, Leandro Silva, Roberto Maleson e Valmir Storti.
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