sexta-feira, 3 de novembro de 2017
Homem se passa por empresário e usa times do TO para iludir jovens atletas
Homem teria se passado por empresário para aplicar golpe em jovens jogadores de futebol
Manoel Bento de Assis se apresenta no Tocantins como empresário de jogadores de futebol com promessas de profissionalização no futebol, porém, para fazer isso ele cobra cerca de R$ 2 mil. Ele faz a divulgação em uma página do Facebook, com o perfil Manoel Filho Filho. Na postagem, ele fala de valores e que o time precisa com urgência. Atualmente ele está em Lajeado, interior do Tocantins, e os anúncios são para os times como Kaburé e União de Palmas – ambos jogam a Segunda Divisão do Estado - as diretorias afirmam não ter nenhuma parceria com o homem que se diz agenciador. Além das denúncias das vítimas, Assis também responde na Justiça por dois processos por estelionato.
Manoel Bento de Assis se diz empresário e promete profissionalizar jovens que sonham com grandes times (Foto: Rogério Aderbal/Divulgação)
A reportagem conversou com duas vítimas de Manoel Bento, um garoto de São Paulo, que pede para não ter o nome citado e será chamado na reportagem de “Atleta 1”, outra vítima que está atualmente em um clube do Tocantins e disse que caiu no golpe há seis anos. Ele também não será identificado, portanto, será chamado de "Atleta 2".
Além das vítimas, o GloboEsporte.com se passou por jogador e conversou com Manoel por um aplicativo, sobre uma possível ida para jogar no Tocantins. Na conversa ele pede além do dinheiro para se profissionalizar, R$ 400 que seriam destinados para alimentação e promete vaga certa no União de Palmas, contratação que, segundo o time, não existe.
O “Atleta 1” contou como foi a conversa com Manoel Bento, que transformou o sonho do garoto de 23 anos em um pesadelo.
- Entrei em contato com ele e já pediu o dinheiro dizendo que precisava logo para profissionalizar. Ele falou assim para mim: 'Manda logo'. Daí eu mandei e aí disse para minha mãe que quando estivesse indo era para ela depositar o valor. Aí fui, acho que cheguei umas 17h e disse para depositar. Cheguei lá, ele prometeu que iria profissionalizar e tudo. O pedido foi de R$ 1,5 mil, era R$ 2 mil, mas eu disse que não tinha condições. Aí depois me pediu mais R$ 300 para uma taxa e queria mais dinheiro ainda - acusou.
O “Atleta 1” voltou para São Paulo após ficar alguns dias no Tocantins. Ele contou que chegou a ir junto com o suporto empresário para Colinas do Tocantins, cidade sede do Kaburé, onde permaneceram dois dias e depois seguiram para Lajeado. De lá o jovem decidiu voltar para São Paulo, por causa das más condições de moradia e alimentação.
O "Atleta 2" está no Tocantins em um clube, jogando a Segundona do estado e relatou o que passou quando Manoel ligou em sua casa no Rio de Janeiro há 6 anos para ele atuar em uma equipe em Piracicaba (SP), onde o suposto empresário estaria com parceria.
- Na época ele [Manoel Bento] ligou em casa dizendo que queria um jogador na posição de meia e aí eu fui. Com 16 anos eu já viajei sozinho. Não existe no futebol jogador viajar sozinho assim, quando viaja você encontra com uma pessoa. Aí fui do Rio para São Paulo, pasei fome e frio, até chegar nele. Ele é uma pessoa que abusa de jogador, fez os meninos na época passarem fome, se não existisse canavial no local que ficávamos, nem sei como seria. Ele foi embora e deixou os meninos abandonados com fome. Comia rapa de arroz e sem falar dos assédios que sofremos. A parte de dinheiro ele sempre pedia para o meu pai, que mandava entre R$ 100 e R$ 200. Sempre com promessa que iria levar para times do interior de SP e RJ. Ele sempre quis pegar jogador e levar para clubes, só que sempre mexendo na idade, fazendo ‘gato’, sempre, sempre fazendo isso. Nas conversas entre nós atletas, a gente sempre perguntava quando um ou outro garoto tinha ido para algum time e depois retornado: 'Por que não ficaram?'. E eles sempre diziam: 'Os caras descobriram que tinha um gato' – explicou.
O 'Atleta 2' ficou 8 meses no time, após a saída ele fez um teste no XV de Piracicaba e foi aprovado, fato que o impediu de desistir do futebol.
Um repórter do GloboEsporte.com se passou por jogador de futebol amador e procurou o suposto empresário dizendo que era amador em Minas Gerais, atuava na zaga e pretendia se profissionalizar. Ele informou ao homem que um amigo o indicou. Manuel adianta na conversa que está arrecadando R$ 400 para ajudar na alimentação do alojamento dos jogadores.
Ouça a conversa no áudio
A TV Anhanguera foi até Lajeado, cidade que fica na região central do Tocantins, onde Manoel Filho montou um alojamento. No local estão 16 jovens de vários estados como Maranhão, Paraíba, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Brasília, entre outros. Os jovens se dividem em três quartos e dormem em belixes. Na sala existem dois sofás e uma televisão.
Os próprios jovens preparam o almoço na cozinha e treinam duas vezes por dia. O que os mantém longe de casa e da família é o sonho de se tornarem jogadores profissionais em grandes clubes.
O suposto empresário, afirma que convenceu o prefeito a montar um time da cidade que vai disputar campeonatos amodores. Segundo ele, toda a manutenção da casa é paga com uma mensalidade cobrada dos jovens.
Manoel nega que tenha pegado dinheiro de algum jogador e afirma que mantém parceria com o Kaburé, o que é negado pelo presidente da equipe, Fábio Canela. Os garotos que estão no local, chegaram há pouco tempo e de acordo com Manoel, que nega as acusações é um projeto para jogar um torneio amador. O suposto empresário nega todas as acusações feitas pelas vítimas.
- Eu não ganhei nada como treinador aí preferi montar minha própria empresa, meu próprio trabalho. E dentro desse trabalho, a gente está negociando jogadores para clubes que eu tenho pareceria. Eu não vou iludir ninguém aqui, não vou falar para um jogador que vou vender ele pro Barcelona, pro Atlético e Real de Madri. Se ele não tem a mínima condição de jogar - disse em entrevista.
A FTF
Conforme o vice-presidente da Federação Tocantinense de Futebol (FTF) Zé Wilson, somente o clube pode profissionalizar o jogador e o valor fica bem abaixo do que é cobrado pelo falso empresário.
- O boleto da CBF fica no valor de R$ 100, a da FTF R$ 310, o que dá um total de R$ 410. A taxa é essa aí para qualquer jogador amador para profissionalizar, nada, além disso - afirma.
Os clubes
A reportagem entrou em contato com Jades Alberto, presidente do União de Palmas, que disse não possuir parceria com nenhum agente de futebol.
- Que absurdo. Ele usa o nome da nossa equipe? Não sabia disso. Isso é até ruim para nós porque faz isso usando a gente e o nome do time fica sujo no meio do futebol - lamenta o dirigente.
O presidente do Kaburé, Fábio Canela, diz que o suposto empresário passou por Colinas do Tocantins e a conversa era de assumir o time, ficou poucos dias e foi embora após a diretoria desconfiar do homem e não ter dado liberdade no time.
- Inclusive tinha um menino aqui na cidade que veio de Goiás, dizendo que havia feito um depósito para esse Manoel e no final não tinha nada do que foi prometido. Ele ficou uns dois dias aqui no clube até conseguir passagem para ir embora. Infelizmente isso acontece muito no Brasil. Cheio de empresário como esse aí – afirmou.
O caso Rolim de Moura-RO
Em abril de 2016, um grupo de jogadores do Rolim de Moura-RO denunciou ao GloboEsporte.com, que sofria maus tratos e apropriação indébita do valor cobrado por parte de Manuel Bento (treinador da equipe na época).
Na época, o jogador Jorge Costa, de 25 anos, um dos atletas que fizeram a denúncia, afirmou que o elenco do Rolim de Moura era formado por cerca de 40 jogadores, mas apenas 28 eram utilizados pelo técnico. Os demais eram obrigados a treinar separadamente. Não necessariamente, segundo ele, por questões técnicas.
– Ele cobrou de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil desses jogadores (que treinam separadamente), dizendo que era para a profissionalização, mas até agora a maior parte deles não está regularizado, e ele não devolve o dinheiro para irmos embora. Outra coisa errada é que ninguém aqui recebe salário. Todos estavam cientes disso quando vieram para cá, só que o técnico quer que todos assinem um documento dizendo que estamos recebendo mesmo sem recebermos nada – acusou na época.
O jogador afirmou ainda que os afastados eram obrigados a se alimentar depois que os demais tivessem se alimentado. A denúncia continua com as precárias condições do alojamento.
– Todo dia nós só comemos depois das 13h, e muitas vezes o prato tem apenas arroz, feijão e salsicha. Quando o Rolim foi jogar em Guajará, ele (Manuel Filho) nos deixou dois dias sem comida. Nossa salvação foi um vizinho que nos arrumou o que comer. Aqui falta água direto, e os banheiros estão sujos e quebrados. Somos obrigados a ficar amontoados dentro desses alojamentos. Alguns acabam tendo que dormir no chão, por falta de colchões - contou na época.
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