quinta-feira, 3 de agosto de 2017
Ipiraense Marcos Vinícius já viveu sob arquibancada e foi tentado por mala de grana na infância
O recém-chegado Marcos Vinícius não precisou de muito para já deixar a torcida do Botafogo animada. Bola na trave, dois gols e um pé calibrado para finalizações. Com só 22 anos, o meia que se destacou por Náutico e Cruzeiro vai ganhando cada vez mais espaço no cenário nacional e se tornando mais um nas estatísticas a conseguir mudar de vida com o futebol.
Assim como tantos e tantos jogadores brasileiros, ele passou por dificuldades no início da carreira, teve que morar debaixo de arquibancada e chegou a ser tentado por um suposto olheiro com uma mala de dinheiro quando ainda era menor de idade, em Ipirá, no interior da Bahia.
– Certa vez chegou um cara que viu o Marcos fazendo teste em Feira de Santana e se apresentou para a gente se dizendo olheiro do Rio e com uma mala de dinheiro. Achei estranho e fui procurar saber, conversar com outras pessoas na cidade, e me disseram para não aceitar que era um golpe para levar meu filho. Essa gente tenta tirar proveito da falta de estudo do povo, eu só fiz até a quarta série, mas tinha um certo conhecimento – revelou a mãe, Dona Valsilene, que se assustou com a quantidade de grana e desconfia que era "bandidagem".
– Eu nem tinha noção de quanto tinha ali, o cara não deixou contar. Mas era muito dinheiro.
Marcos Vinícius e a mãe Valsilene felizes com o presente no Botafogo (Foto: Thiago Lima) Marcos Vinícius e a
Valsilene protegeu o filho quando teve dúvida e o apoiou quando teve certeza. Ela só o incentivou a ir para o Náutico com 15 anos depois de confirmar a veracidade do representante do Timbu, que segundo ela era uma pessoa mais conhecida. Com os olhos marejados, lembra que não o deixou desistir dos sonhos mesmo diante das dificuldades e da distância, e semana passada chegou para morar com Marcos Vinícius no Rio de Janeiro. Na última terça-feira, já em companhia da mãe coruja, ele recebeu a reportagem do GloboEsporte.com em sua casa, na Zona Oeste.
Confira a entrevista com Marcos Vinícius:
GloboEsporte,com: Como foi o começo de sua carreira?
Marcos Vinícius: O começo foi complicado, saí da Bahia moleque, com 15 anos fui para a base do Náutico, morei debaixo da arquibancada (nos Aflitos)... Lá a base não era muito boa, já teve até reportagem um tempo atrás mostrando o alojamento lá que era complicado, mas é bom para a gente aprender a dar valor às coisas agora. Passei dificuldades como muitas das vezes os jogadores passam, mas hoje estou muito feliz de estar podendo desfrutar de coisas boas aqui no Botafogo.
Em algum momento nessa época você pensou em desistir?
Nunca passou pela minha cabeça desistir não porque minha família me dava um suporte. Minha mãe sempre me apoiava a ir para os times, não era aquela mãe que ficava: "Ah, filho, você está novo". Muitas mães se apegam a isso, mas a minha acreditou no meu sonho. Quando eu ligava para ela às vezes chorando, que estava difícil, ela juntava e mandava dinheiro para eu lanchar. Minha família foi fundamental para minha presença no futebol.
Faltava comida mesmo?
Faltava. Às vezes a gente só almoçava, jantava, o lanche da noite não tinha, a gente tinha que se virar, então foi bastante complicado. Mas graças a Deus já passou a fase ruim, agora só coisas boas pela frente. Mas sou muito grato ao Náutico até hoje. Foi o clube que me formou como jogador e como homem, tenho um carinho enorme e sou torcedor do Náutico.
Esperava que fosse tão rápida sua adaptação ao Botafogo?
Não. Quando cheguei sabia do meu potencial, mas não que as coisas poderiam acontecer tão rápido assim como está sendo. Até porque estava um pouco desacreditado lá por muitos aí, pelo que estava passando no Cruzeiro. Mas dentro de mim sabia que seria uma oportunidade para mostrar que tenho futebol. Estou muito feliz, e se Deus quiser as coisas vão estar do jeito que a gente espera para dar alegria à torcida do Botafogo.
Hoje morando na Zona Oeste do Rio, meia já precisou viver debaixa de arquibancada (Foto: Thiago Lima) Hoje
O Jair chegou a falar que no começo você estava ressabiado de vir porque não queria ser moeda de troca, como contrapeso do Sassá. Você achava que ficaria diminuído?
Eu não gostei da forma que foi conduzido, pelo que foi colocado na imprensa, das notícias que eu acompanhei. Acho que tinha uma forma melhor de conduzir essa troca, mas eu nunca me senti assim, como moeda de troca, não. Quando surgiu a oportunidade no Botafogo fiquei bem feliz, time grande, de história gigante no futebol. Só fiquei meio com o pé atrás pela forma que foi conduzido.
E aí foi fundamental o Jair ter te ligado, né?
Quando ele me ligou, aí a felicidade aumentou e não pensei duas vezes. Falou para eu vir e ajudar ele, e ele também me ajudar. A partir da ligação dele me deu uma motivação a mais para estar aqui.
Você já mostrou que gosta de chutar bastante, é uma característica sua ser bem objetivo?
Sim, venho treinando isso, chuto bem de fora da área. Professor conversou comigo para finalizar mesmo. Contra o Fluminense o Júlio César estava em uma noite muito inspirada, infelizmente a bola não entrou, mas contra o São Paulo arrisquei duas ali e deu tudo certo, a bola começou a entrar. Continuar trabalhando e fazendo o que tenho de melhor, que é meu chute, jogar sempre em direção ao gol para as coisas acontecerem.
Tem torcedor dizendo que você lembra o Jobson, o Beto, jogadores que passaram pelo Botafogo. Se lembra deles, chegou a ouvir alguma comparação dessas?
O Jobson sim porque foi mais recente, é um excelente jogador, bom finalizador. O Beto eu não lembro muito, tenho só 22 anos (risos).
Marcos Vinícius agradece a mãe, de olhos marejados e que veio morar com ele no Rio (Foto: Thiago Lima)
E o que você está imaginando para os últimos meses do ano?
Esse mês vai ser de muitas decisões pela frente, jogos muito importantes, que todos gostam de estar no meio. Copa do Brasil eu não posso jogar infelizmente, mas tem a Libertadores ainda, o Brasileiro. Vai dar tudo certo para o Botafogo.
E essa timidez sua vem de onde? Porque baiano não é tímido...
(Risos) Moleque do interior quando vai para fora tem essa dificuldade, essa timidez, mas dentro de campo é o mais importante. O professor falou comigo quando cheguei para deixar a timidez fora de campo. Falei: "Professor, dentro de campo pode ficar tranquilo que é totalmente diferente" (risos).
Mas baiano tem essa coisa de ser animado. Você é assim no vestiário, canta, dança, ou fica mais na sua?
Sou mais tranquilo mesmo, sossegado. Baiano é meio folgado mesmo (risos), os caras brincam comigo que sou diferente. É meu jeito mesmo.
É mais um baiano mineiro?
(Risos) Verdade.
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