sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Prisão de vice recoloca Fla nas páginas policiais e arranha gestão Bandeira

Para atacar Patricia Amorim na eleição de 2012, grupo do atual presidente prometeu afastar o clube dos casos de polícia. Godinho foi o grande financiador da reeleição



A gestão da ex-presidente do Flamengo Patricia Amorim foi marcada por escândalos policiais. O goleiro Bruno e o atacante Adriano foram protagonistas dos episódios mais emblemáticos. A marca negativa virou munição nas mãos dos membros da Chapa Azul na eleição de 2012. Naquela época, o então candidato Eduardo Bandeira de Mello pretendia "afastar o Flamengo das páginas policiais". Não conseguiu. 
Na manhã desta quinta-feira, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal cumpriram um mandado de prisão contra o vice-presidente do clube, Flávio Godinho, no Rio de Janeiro. As informações são do G1. A busca faz parte da Operação Eficiência, desdobramento da Lava Jato. O dirigente é acusado de participar de ocultação e lavagem de dinheiro das propinas que eram recolhidas das empreiteiras que faziam obras públicas no Rio de Janeiro.

Calada num primeiro momento, a diretoria do Rubro-Negro monitora o caso.  Em nota oficial, disse que o departamento de futebol segue com seu planejamento e atividades. Anunciou também que o presidente Eduardo Bandeira de Mello passa a acumular a vice-presidência da pasta. O mandatário classificou a situação como desagradável, mas negou danos ao Flamengo. 
- No Flamengo continua tudo absolutamente normal. É um assunto particular, o Flamengo tem princípios conhecidos de ética, transparência, de governança. Não acho que respingue no clube - afirmou Bandeira ao GloboEsporte.com. 
Rodrigo Caetano e Flávio Godinho Flamengo (Foto: Fred Gomes)Flávio Godinho (em pé) em recente aparição no Ninho do Urubu. Diretor Rodrigo Caetano, ao telefone, comanda o departamento após a prisão do vice de futebo  (Foto: Fred Gomes)


Apesar de tratar o tema como de "cunho pessoal", a prisão de Godinho atinge em cheio o departamento. Ele tem participação direta nas negociações do Flamengo com reforços. Mais do que isso. Foi grande financiador da campanha da reeleição de Bandeira de Mello em 2015. Homem-forte do futebol desde janeiro de 2016, quando assumiu a vice-presidência da pasta, Godinho fez parte do "time de ouro" da Chapa Azul já na eleição de Bandeira. Ele foi um dos pilares na campanha ao lado de outro executivo: Luiz Eduardo Baptista, o Bap, vice de marketing na época. 

No evento de lançamento da candidatura da chapa, em 2012, teve o currículo exibido com orgulho pelos companheiros de campanha. O perfil destacava basicamente sua relação com o Grupo EBX, do empresário Eike Batista. Godinho foi sócio-diretor do Grupo EBX, membro do Conselho e atuou no Brasil e no exterior em empresas do Grupo. Eike teve mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça também nesta quinta-feira por suspeita de envolvimento em um esquema de pagamento de propina ao governo Sérgio Cabral. 

Membro "001" da Chapa Azul

Vencida a eleição de 2012, o grupo que antes formava a Chapa Azul definiu que Godinho seria o gestor do futebol e teria a palavra final no departamento, acima do diretor-executivo, o que não se confirmou. Ele assumiu como vice de relações externas. Ficou oito meses na pasta e foi o responsável por estreitar a relação entre Flamengo e o técnico Mano Menezes. Em agosto de 2013, o Flamengo anunciou, através de seu site oficial, o desligamento do empresário. Segundo o clube, em razão de compromissos no exterior. Flávio Godinho, que proclama ser o membro "001" da Chapa Azul, explicou a saída pouco tempo depois. Ele foi o primeiro graúdo a debandar da gestão de Eduardo Bandeira de Mello. Justificou assim:
- Basicamente saí com uns seis meses de gestão. Foi um grupo formado muito rápido, as pessoas têm a impressão que a Chapa Azul era formada por velhos amigos, e na verdade foi um grupo de gente bem intencionada, que você pode entregar um cheque em branco a qualquer um, realmente nada do Flamengo, tudo pelo Flamengo. Como todo grupo que se conhece pouco, na gestão do dia a dia começam a aparecer divergências. Por exemplo, tinha gente lá, que fazia parte da liderança, que achava que o Flamengo não devia investir em divisão de base, deveria comprar jogador semipronto com 18 anos. Acho absolutamente o contrário. Existia uma forma muito amadora de se contratar jogador. O Flamengo evoluiu na questão do número de jogadores, privilegiando mais a qualidade do que a quantidade. Até para poder implementar esse choque de gestão, acho que um dos defeitos da Chapa Azul foi uma certa intolerância ou arrogância. Perdeu uma oportunidade no começo de gestão de unir o clube. Eu era contrário a esse tipo de modelo, preferi me afastar. Achei que estaria até contribuindo - disse ao GloboEsporte.com, em setembro de 2015. 

A explicação veio justamente nos meses finais do primeiro mandato de Bandeira. Godinho retornava para ser vice de planejamento. E com mais poderes, que lhe conferiam o direito de interferir em todos os setores do clube, incluindo o futebol. Godinho passou a participar efetivamente do planejamento do elenco para 2016. Naturalmente tornou-se vice de futebol pouco tempo depois. Dois episódios marcam sua passagem pelo clube. Foi Godinho quem conduziu as negociações para contratar os meias Diego, em 2016, e Darío Conca, em 2017.
Flavio Godinho Flamengo (Foto: Raphael Zarko)Godinho é acusado de participar de ocultação e lavagem de dinheiro (Foto: Raphael Zarko)

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