Desde o fim do Campeonato Roraimense em maio e a despedida dos dois times
de Roraima na Série D, jogadores precisam de outras atividades para sobreviver
Katê e Lennon, cada um a seu modo, cuidam do conforto das pessoas(Foto: reprodução)
Em comum, 23 anos de idade, filho para criar, amor pelo futebol e um porém: não poder viver exclusivamente da profissão que escolheram, o futebol. Assim é a história do goleiro Katê e do zagueiro Lennon, que, sem atividade nos campos, são apenas exemplo de todos os jogadores profissionais que moram em Roraima: não participam de nenhuma competição profissional no segundo semestre e usam outro trabalho para sobreviver, que inclusive paga melhor que a bola em algumas oportunidades. O arqueiro revelação do Campeonato Roraimense e campeão pelo São Raimundo-RR trabalha como frentista em um posto de gasolina. Já o zagueiro fabrica cortinas.
O Campeonato Roraimense (dura em média três meses e nesse ano contou com quatro clubes) acabou em maio, com o time do Katê (que pegou pênalti na final) sendo campeão estadual em cima do Baré de Lennon. No bate-papo com os atletas, um discurso se repetiu: "Não dá para viver só de futebol em Roraima".
Desde o fim do Roraimense e da participação do Baré na Série D, que terminou na primeira fase, Lennon se dedicou inteiramente a um trabalho que, segundo ele, é o que dá mais estabilidade financeira e paga melhor: construir cortinas.
Lennon durante participação no Campeonato Roraimense (Foto: Ivonísio Júnior)
A mesma atenção dispensada aos atacantes adversários, Lennon tem com as persianas. Em média, ele monta 25 por dia, o que dá um salário de cerca de R$ 1,4 mil por mês. Nos três meses entre treinos e disputa do Campeonato Roraimense, o zagueiro recebe em torno de R$ 1 mil mensais do time em que atua. Na balança para saber qual a profissão mais importante, Lennon pesa uma hora para o sonho, e em outro momento para a realidade.
- Ainda sonho jogar num clube maior e que eu possa viver do futebol. Enquanto esse dia não chega, sigo com meu trabalho fazendo cortinas. Por sinal, a construção desses objetos me dá mais estabilidade financeira, e minha patroa me paga direitinho e me trata muito bem. Para não ficar parado no segundo semestre, cuido de mim com atividades físicas e também jogo nos campeonatos de futebol amador - disse Lennon, que diferente do homônimo famoso, afirma que o "sonho não acabou".
No hiato que o futebol profissional de Roraima vive no segundo semestre, o goleiro Katê precisa sair de baixo da trave e defender outra meta, o ganha pão. O arqueiro ainda chegou a encarar uma competição após o estadual, a Série D, quando defendeu o Náutico-RR este ano. No entanto, com o fim da participação do Alvirrubro na Quarta Divisão no começo de agosto, Katê teve que se dedicar mais não na reposição de jogo, que todo goleiro faz, mas na reposição de combustível. Diferente de Lennon, Katê é mais pessimista quanto ao futebol.
Última participação profissional de Katê em 2016 foi na Série D pelo Náutico-RR (Foto: Ivonísio Júnior)
- Trabalho há três anos como frentista, entre idas e vindas. E foi justamente o futebol que me ajudou a ter esse emprego, pois as pessoas me conhecem e me indicam para o trabalho. No futebol profissional, em algumas oportunidades ganho R$ 1 mil de salário, enquanto no posto de gasolina recebo R$ 1,2 mil por mês. O futebol é hoje pra mim apenas diversão, inclusive estou jogando pelada diariamente enquanto não chega 2017. Já o meu emprego de frentista garante uma renda fixa em todo o ano.
A próxima competição profissional envolvendo os times de Roraima está prevista para março de 2017. É o Campeonato Roraimense. Será o momento de os jogadores que têm empregos fora dos gramados entrarem no campo para algo além de uma simples profissão, a alegria de praticar o que amam: futebol. Isso não tem preço para eles, até porque o trabalho formal mais duradouro está fora das quatro linhas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário