Emprestado ao River Plate, um dos maiores ídolos recentes do Inter se despediu
da torcida com o carinho dos fãs, emoção no Passo D'Areia e até cartão amarelo
Se um roteiro de filme fosse escrito para encerrar a passagem de D'Alessandro no Inter, talvez não fosse muito diferente do que foi visto na noite de quarta-feira no Passo D'Areia, no empate em 0 a 0 com o São José, com vitória nos pênaltis por 3 a 2 e título da Recopa Gaúcha. Talvez tivesse como palco um estádio menos acanhado e como clímax um gol em vez da bola que explodiu no travessão na segunda etapa, para coroar com final feliz a história de amor entre o gringo e o clube.
Mas as outras cenas estavam todas lá. Provocação dos rivais, catimba, movimentação, orientação aos companheiros, entrega, reclamação com a arbitragem, cartão amarelo, músicas, aplausos, lágrimas, reverências e a torcida pelos companheiros de time. E para fechar, claro, o que o meia mais gostou de fazer durante estes quase oito anos de Beira-Rio, de 341 jogos e 76 gols: levantar taças. A Recopa foi sua 10ª e última conquistada.
Mas as outras cenas estavam todas lá. Provocação dos rivais, catimba, movimentação, orientação aos companheiros, entrega, reclamação com a arbitragem, cartão amarelo, músicas, aplausos, lágrimas, reverências e a torcida pelos companheiros de time. E para fechar, claro, o que o meia mais gostou de fazer durante estes quase oito anos de Beira-Rio, de 341 jogos e 76 gols: levantar taças. A Recopa foi sua 10ª e última conquistada.
– Levo tudo do clube dentro do meu coração. Eu queria muito sair com um título, mesmo que não fosse o mais importante. Todos me apoiaram – afirmou D'Alessandro, emocionado.
PROVOCAÇÃO NA CHEGADA
D'Alessandro chega ao Passo D'Areia par sua despedida do Inter (Foto: Tomás Hammes/GloboEsporte.com)
Por ser a figura mais expressiva do Inter, a liderança dentro de campo, D'Alessandro costuma atrair para si as provocações dos torcedores rivais. E não é porque estava se despedindo que foi poupado pelos fãs do Zequinha. O argentino entrou Passo D'Areia às 20h31. Enquanto caminhava para o vestiário, ouviu a provocação de torcedores que já estavam nas sociais do estádio:
– E aí, D'Alessandro, você vai tomar três de novo!
Uma clara referência ao 3 a 0 sofrido no Gauchão de 2010, em jogo em que o argentino chegou a discutir com o técnico Argel, então comandante do São José. Ao ouvir, o gringo virou para trás, mirou o torcedor e seguiu sua caminhada. Antes de adentrar ao setor destinado aos visitantes, cumprimentou membros do estafe colorado. Quatro minutos depois, saiu e teve uma rápida conversa com Argel, hoje do seu lado.
DECLARAÇÕES DE AMOR
Às 20h56, o meia, ainda do vestiário, ouviu aquilo que seria quase um mantra durante a noite de quarta-feira: o tradicional cântico entoado das arquibancadas em sua homenagem: "D'Alessandro! E dá-lhe, dá-lhe, D'Alessandro! E dá-lhe, dá-lhe, D'Alessandro"! Seis minutos depois, quando iniciou o aquecimento, os gritos ficaram mais fortes e começaram a testar suas emoções. Abanava para os fãs e fitava duas bandeiras com seu rosto expostas nas dependências do Passo D'Areia.
O gringo trabalhou com o mesmo afinco. No fim da atividade, se aproximou de William, Paulão e Réver e trocou ideias com os parceiros.
Quando o relógio marcava 21h38, D'Alessandro trouxe o Inter pela última vez ao gramado. Com o tradicional cacoete de mexer na braçadeira de capitão, se perfilou junto aos colegas para depois cumprimentar a arbitragem e os jogadores do São José. Após a cerimônia, foi com os companheiros saudar a torcida, que o venerava. Dois minutos depois, posou para a última foto.
O MAESTRO EM CAMPO
D'Alessandro conduziu o Inter pela última vez (Foto: Tomás Hammes / GloboEsporte.com)
A partir dali, até o apito inicial de Márcio Coruja, passaram cinco minutos nos quais o gringo balançou. Entre abanos e gritos de incentivo, D'Ale levantava e abaixava a cabeça. Tentava conter as lágrimas para não deixar a emoção abalar seu rendimento.
Com a bola em jogo, tocou a primeira vez nela com um minuto e quarenta segundos, quando passou para Fernando Bob. Quinze segundos depois, desperdiçou seu primeiro toque, ao tentar acionar Eduardo Sasha.
Em campo, D'Alessandro teve a mesma postura que marcou seus quase oito anos de Inter. Se movimentou por todos os lados, pediu bola e regeu a equipe. Seu primeiro momento de perigo ocorreu aos 32 minutos, quando encontrou Vitinho, mas o atacante chutou à direita do gol de Fábio em lance que seria anulado pelo assistente por impedimento.
RECLAMAÇÃO COM A ARBITRAGEM
D'Alessandro cobra o árbitro Márcio Coruja (Foto: Tomás Hammes / GloboEsporte.com)
O jogo parecia tão natural que não faltaram as tradicionais contestações contra a arbitragem. Três minutos depois do passe a Vitinho, ao ver Anderson ser derrubado por trás, cobrou de Márcio Coruja uma atitude mais firme. Na cobrança de falta, tentou acionar Réver, mas exagerou na força e mandou para fora.
Na etapa final, D'Ale tentou encobrir Fábio logo no primeiro minuto,mas o goleiro do Zequinha teve tempo para se recuperar. Neste momento, um outro cântico saiu das arquibancadas. Ou melhor, um apelo, quase uma súplica, como se os torcedores quisessem demovê-lo da ideia de trocar o Beira-Rio por Nuñez: "D'Ale não se vá! D'Ale não se vá! D'Ale não se vá".
Depois, o gringo sofreu com o desempenho da equipe. Pedia para ser acionado. Aos 10 minutos, livre na direita, gesticulou de todas as formas para receber o passe, mas não foi atendido. No minuto seguinte, se inconformou ao ver um adversário no chão e ter que chutar a bola para fora.
BOLA NO TRAVESSÃO E DELÍRIO
Aos 19 minutos da segunda etapa, quase a consagração final. O gringo soltou uma bomba de fora da área. Por capricho, viu ela explodir no travessão. O camisa 10 colocou as mãos na cabeça, incrédulo. A torcida explodiu. Ainda mais quando ele se dirigiu para cobrar um escanteio. Para completar o êxtase, o capitão regeu seus fãs, levantando os braços e pedindo para cantarem ainda mais forte.
D'Alessandro não queria deixar nada de fora de sua última apresentação. Então, o cartão amarelo, um de seus companheiros no Beira-Rio, marcou presença. Aos 24, acabou punido por entrada em Clayton. De quebra, esbravejou contra Coruja. No minuto seguinte, a habitual catimba. Ao sofrer uma falta de Everton, girou. Metade dos jogadores do Zequinha mostrou vdescontentamento com a marcação do árbitro.
SAÍDA DE CAMPO E TORCIDA
Aos 34, D'Ale virou para Argel e pediu para sair. No minuto seguinte, quando a placa subiu para a entrada de Alex, virou para os colorados, os reverenciou, aplaudiu e deu seu adeus. Ainda fez o sinal da cruz antes de abraçar o parceiro, finalizando sua passagem pelo Inter no chuvoso e abafado 3 de fevereiro de 2016 na capital gaúcha.
D'Alessandro reverencia torcida do Inter (Foto: Tomás Hammes / GloboEsporte.com)
Ao sair do campo, a faceta jogador deu lugar a de torcedor. D'Alessandro ficou em pé, ao lado de Anderson, escorado no banco de reservas, enquanto Argel tentava empurrar o time rumo ao gol. Os minutos restantes também serviram para os abraços finais. O auxiliar Odair Hellmann e o massagista Juarez Quintanilha receberam efusivos cumprimentos do gringo.
Só que o gol não saiu. E D'Ale teve seu último teste. Precisou ver a equipe cobrar as penalidades. Após tomar o isotônico, tratou de dar o último incentivo na roda aos colegas. Na hora da cobrança, ficou entre o preparador de goleiros Daniel Pavan e o preparador físico João Goulart. O capitão ainda tentou se manter calmo, mas evidenciava tensão. Após o gol de Marquinhos, se virou com um sorriso e fez um movimento como de relaxamento, que se confirmou após Alisson defender a penalidade que garantiu o título.
A ÚLTIMA TAÇA
D'Alessandro ergue a última taça pelo Inter (Foto: Tomás Hammes / GloboEsporte.com)
Era o que precisava. D'Alessandro saía do Inter com mais uma taça. Antes de erguê-la, correu para dar sua volta olímpica. Entre os gritos dos fiéis, não se aguentou e caiu no choro. Buscou forças para levantar o último troféu como capitão antes de voltar até o alambrado e curtir os últimos momentos perto dos torcedores.
– Nunca pensei que esse momento iria chegar. Mas chegou e sou muito agradecido por tudo. Não tem igual, não tem comparação. O que os torcedores me deram não tem comparação.
Era o último ato. Já de boné, entrou no vestiário para participar da última roda com os colegas. Uma era se encerra no Beira-Rio – pelo menos até o início 2017, quando acaba seu empréstimo ao River Plate. Fica a pergunta: será que um dia o argentino volta? Mas também uma certeza: D'Ale deixa o Colorado, mas o leva no coração.
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