Se deixou o octógono com vitória sobre Nick Diaz que, embora insossa, colocava-o de novo em evidência, Anderson Silva, agora acusado de doping,
terá muita dificuldade para voltar a faturar com publicidade como anos
atrás. O lutador chegou a levantar cerca de R$ 5 milhões em patrocínios
em 2012, quando venceu a revanche contra Chael Sonnen e alcançou seu
"auge publicitário". Em 2015, com possível suspensão à vista, terá de ficar feliz se passar de R$ 1 milhão.
O maior contrato de Anderson Silva, com a Budweiser, acabou exatamente nesta luta com Diaz e teria de ser renegociado de qualquer maneira.
A cervejaria pagava R$ 1,1 milhão por ano, num acordo que fora fechado
anos antes, e era a única empresa a “abraçar a causa” do atleta. Na
televisão, rodou comercial no qual o Spider se levantava do fundo de um poço e escalava paredes até sair dele. Na camiseta que o lutador vestiu ao caminhar até o octógono, havia o slogan da empresa adaptado ao momento dele: “Great times are coming back”. Para o azar da Budweiser e de Anderson Silva, o doping o jogou novamente no fundo deste poço.
Outros patrocínios eram menores. A Furnas,
subsidiária da Eletrobras no Rio de Janeiro, paga R$ 240 mil anuais a
Spider, mas este é um acordo que faz parte de um pacote que tem mais de 30 outros lutadores. É um dinheiro que entra graças a leis de incentivo do governo carioca. Cotas de patrocínios pontuais, válidos apenas para determinada luta, como no caso do Hotel Urbano, que estampou sua marca no calção do lutador na luta com Diaz, são negociadas por valores de R$ 250 mil para baixo.
Anderson Silva agora
terá de renegociar o contrato da Budweiser e de outras patrocinadoras
menores em péssima condição. Um lutador de MMA não é como um jogador de futebol,
que faz gol todo domingo e toda quarta-feira em partidas transmitidas
pela TV aberta. Ele luta uma vez por ano, talvez duas, e depende do
pré-luta e do pós-luta para se promover. Agora seria o momento de dar
entrevistas a emissoras e revistas nacionais, falar de superação, de
todas as adversidades enfrentadas desde que quebrou a perna diante de
Chris Weidman. Isso alavanca o retorno que patrocinadores têm e dá
argumentos ao negociar contratos. Nada disso terá o mesmo efeito porque,
agora, Silva terá de explicar o doping em toda mídia que visitar.
A marca de Spider também está arranhada. Ele continuará a ter visibilidade, a gerar audiência
para televisões e a vender pacotes de pay-per-view, sem dúvida, porque é
o maior ídolo brasileiro de um esporte que se popularizou de uma década
para cá. Mas os valores que ele carrega não são mais os mesmos. Quando
menosprezou Weidman e acabou nocauteado, ganhou o rótulo de arrogante.
Na luta seguinte, quando quebrou a perna, deu azar. Nada negativo.
Agora, com o caso de doping, põe a pecha de hipócrita no currículo, pois afirmara publicamente que lutadores que usavam substâncias proibidas deveriam ser banidos,
e passa a impressão de que faz de tudo, até quebrar regras, para voltar
a vencer. São adjetivos que, se não diminuem o carisma e a simplicidade
que o marcavam, prejudicam a marca dele.
Para dificultar um pouquinho mais, os encarregados
por negociar patrocínios futuros para o brasileiro não são mais os
mesmos. A 9ine, agência de Ronaldo, Marcus Buaiz e do grupo de
publicidade WPP, rompeu com o lutador no fim do ano passado e foi substituída pela ICM, uma empresa estrangeira
que trabalha com o mercado de entretenimento e chegou para tornar
realidade o sonho de Anderson Silva de ser ator. Herbert Mota, agente de
Spider desde 2010, também se afastou dele e foi trocado pelo carioca
Marcello Magalhães. Não há nada que impeça os novos
responsáveis pela carreira de Silva de conseguir os mesmos ou até mais
contratos, mas, como o relacionamento entre agências, agentes e empresas
têm um papel importante numa negociação de patrocínio, esta troca torna
tudo mais trabalhoso.
Anderson Silva trocou de estafe porque julgava que poderia ganhar mais dinheiro
se não tivesse uma agência com exclusividade, como era o caso da 9ine, e
porque queria fazer a transição em sua carreira de lutador para ator de
Hollywood. Pode não conseguir nem um, nem outro. Irá depender de seus
próximos movimentos, cruciais numa gestão de crise, como provar que é
inocente da acusação de doping, como disse a médico brasileiro, e do que irá dizer agora a torcedores e patrocinadores.
O blog procurou Budweiser, Hotel Urbano, Do Bem e Viber, todas empresas que tiveram visibilidade na luta entre Anderson Silva e Nick
Diaz, para obter posicionamentos oficiais. A Budweiser afirmou que não
irá se pronunciar neste momento. As demais ainda não responderam ao
pedido.
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