sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Emoção e "milagre": pai corre a São Silvestre ao lado do filho com paralisia

Curitibano cria engenhoca e realiza sonho de participar da corrida em São Paulo acompanhado pelo filho e detalha experiência. "Foi incrível, só quem vive para saber"

Michel de Oliveira Curitiba São Silvestre (Foto: Arquivo pessoal)Gabriel e Michel de Oliveira na São Silvestre
(Foto: Arquivo pessoal)
A 90ª Corrida Internacional de São Silvestre, realizada na quarta-feira, em São Paulo, foi especialmente desafiadora para o curitibano Michel de Oliveira. Acompanhado do filho Gabriel, de 7 anos, que tem paralisia cerebral, o cabeleireiro viveu momentos de emoção na tradicional prova de 15km disputada nas ruas da capital paulista. Na primeira vez que participou da corrida, ele deu exemplo de superação.
Para realizar o sonho de estrear na prova, o ex-mecânico industrial criou uma engenhoca - um equipamento com partes de uma bicicleta e uma cadeira de rodas - para que o filho pudesse acompanhar o pai na inédita jornada. Na terça-feira à noite, Michel e Gabriel saíram de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba com destino a São Paulo, onde ficaram hospedados na casa de um casal de amigos. Depois de retirarem o kit de participação no Ginásio Ibirapuera, Michel aguardou a chegada da filha Isabel e da esposa Vilma, que foram de ônibus, e contou as horas para viver um dos momentos mais marcantes de sua vida.
Na manhã da quarta-feira, dia da São Silvestre, as primeiras horas foram marcadas por muita ansiedade, além de exercícios de aquecimento e alongamento. Na Avenida Paulista, o curitibano se assustou com o número de participantes - foram 30 mil competidores de 42 países na prova mais popular do atletismo brasileiro.
- Tinha muita gente, e a largada durou uns 40 minutos. Fui andando com ele com muita paciência até conseguir cruzar a linha de largada. Foi bem tumultuado, tive que correr bem leve porque era muita gente, além de tomar bastante cuidado com o carrinho para não atrapalhar as outras pessoas. Mas já imaginava que seria assim - conta o cabeleireiro, em entrevista por telefone ao GloboEsporte.com.

Com certa dificuldade para superar trechos desgastantes da prova e sofrendo com as subidas, Michel foi percorrendo o trajeto com o filho e contou com a solidariedade de outros corredores nas partes mais pesadas do percurso. 

Michel de Oliveira Curitiba São Silvestre (Foto: Arquivo pessoal) 
Filha Isabel e esposa Vilma também acompanharam a jornada 
de Michel e Gabriel em São Paulo (Foto: Arquivo pessoal)

- Muita gente se disponibilizou a nos ajudar. Muitos corredores iam correndo na frente para abrir espaço para nós. Outros buscavam água para a gente, ou energético, e também se ofereciam para empurrar o equipamento, principalmente nas subidas. Foi emocionante - relembra.
Ouvindo gritos como "Vai, campeão", e "Vamos, guerreiro", o pai conta que se emocionou com o apoio dos demais participantes que presenciaram a passagem de Gabriel na corrida.
 Muitos corredores iam correndo na frente para abrir espaço para nós. Outros buscavam água para a gente, ou energético, e também se ofereciam para empurrar o equipamento, principalmente nas subidas
Michel Oliveira
- Me emocionou muito. No final, muita gente veio tirar fotos e conversar com ele. Em alguns momentos chegou a dar fraqueza, mas ouvi muitas pessoas dizendo palavras de incentivo, que foram a injeção de ânimo para eu conseguir completar a prova com o meu filho. Foi incrível, só quem vive para saber.
Michel e Gabriel correm diariamente em Curitiba há um ano e a participação na São Silvestre foi a primeira prova disputada longe da capital paranaense. Totalmente dependente dos pais, o menino é incentivado a praticar atividades físicas, que incluem sessões de equoterapia, fisioterapia e terapia ocupacional para superar limitações. Ao final da jornada, o pai resume a experiência como um milagre e relembra as dificuldades da doença.
- Foi uma experiência inesquecível. Com toda a nossa história e dificuldades, considero um milagre ter conseguido participar com o meu filho da São Silvestre. Quando menor ele não gostava muito de ter contato com outras pessoas, sempre era um momento doloroso. Não podíamos ir na casa de outras pessoas, visitar parentes, ele era agitado. Mas hoje, graças à corrida, ele está bem mais sociável. A coordenação dele e a capacidade cognitiva melhoraram muito.

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