quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Capitã da seleção sofre racismo em Minas e desabafa: "Difícil de vivenciar"

Central do Sesi-SP e nascida em BH, Fabiana Claudino divulga ato de um torcedor na derrota pela Superliga feminina. Sheilla, Jaque e Thaísa saem em defesa da amiga

Fabiana Claudino, do SESI e da Seleção (Foto: Reprodução/ Instagram)Fabizona foi alvo de insultos racistas durante jogo em Minas (Foto: Reprodução/ Instagram)
Fabiana Claudino, central do Sesi-SP e capitã da seleção brasileira, revelou ter sido vítima de insultos racistas na derrota da sua equipe para o Minas, por 3 sets a 1, na noite de terça-feira, em Belo Horizonte. Em desabafo nas redes sociais, Fabiana relatou que um "senhor" na arquibancada proferiu expressões como "macaca quer banana", "macaca joga banana", entre outras, em sua direção. Muito chateada pelo ocorrido, a jogadora chegou a ter dúvidas sobre um pronunciamento quanto ao caso, mas resolveu fazê-lo no intuito de tentar ajudar a diminuir o número de incidentes.
De acordo com a bicampeã olímpica, seguranças do Minas Tênis Clube retiraram a pessoa do ginásio. A atitude do clube mineiro foi enaltecida.
"Eu não preciso ser respeitada por ser bicampeã olímpica ou por títulos que conquistei, isso é besteira! Eu exijo respeito por ser Fabiana Marcelino Claudino, cidadã, um ser humano", escreveu a atleta.
Minas já havia presenciado uma cena parecida em 2012. O alvo foi o oposto Wallace, do Cruzeiro. Na época, ele relatou que ouviu de uma torcedora gritos de ''macaco'' "volta pro zoológico''. Já em 2011, torcedores do Cruzeiro protagonizaram outra cena de preconceito. Em coro, ofenderam o central Michael, do extinto Vôlei Futuro, com xingamentos homofóbicos.
Vôlei, Minas X Sesi-SP (Foto: Orlando Bento) 
Número 1, Fabiana ataca para o Sesi-SP na derrota contra o Minas 
(Foto: Orlando Bento)

minas repudia atitude
O Minas Tênis Clube repudiou o incidente e salientou que foi um fato isolado, em que os próprios torcedores do clube identificaram o torcedor responsável pelas injúrias, já que o ginásio estava cheio e era difícil de se ouvir os xingamentos. Os seguranças do Minas retiraram a pessoa do ginásio e acionaram a Polícia Militar para fazer um boletim de ocorrência. O torcedor em questão não era sócio e foi orientado, tanto pelo clube quanto pela polícia, a não voltar ao ginásio.
Segundo a Polícia Civil, que começará a investigar o caso, não houve registro formal de queixa relacionada a Fabiana. Um boletim de ocorrência de atrito verbal foi registrado na 2ª Delegacia do Centro de Belo Horizonte, no plantão da delegada Danielle Durães Altaf Silva. A ocorrência cita quatro envolvidos, mas não especifica se eles seriam vítimas ou autores do atrito verbal. Os quatro foram ouvidos e liberados. 
jogadoras enviam mensagem de apoio
Sempre sorridente, Fabiana é uma das mais queridas no vôlei brasileiro. Na última semana, completou 30 anos de idade e fez uma festa à fantasia, que contou com a presença de diversas jogadoras de vários clubes da Superliga. Não demorou muito para que outras jogadoras defendessem a amiga e condenassem a atitude preconceituosa: Sheilla, Jaqueline, Thaísa e Carol Gattaz foram as primeiras. Mesmo na Turquia, Sheilla Castro, sua companheira de seleção brasileira, foi a primeira a sair em solidariedade à amiga. Em sua conta no Instagram, a oposta mostrou toda a sua incredulidade.
"Acho inadmissível ainda existir racismo. Minha amiga @fabiclaudino ontem no jogo na sua terra natal, sofreu isso com um torcedor. Fiquei muito revoltada e triste. Ainda bem que o Minas Tênis Clube retirou o indivíduo e encaminhou pra delegacia! Gente, não existe esse negocio de raça negra, branca, amarela... O que existe é raça humana!", postou Sheilla.
Sheilla apoia Fabiana Claudino preconceito vôlei (Foto: Reprodução/Instagram) 
Sheilla apoia Fabiana Claudino, que sofreu preconceito no vôlei
 (Foto: Reprodução/Instagram)
Outra bicampeã olímpica, Jaqueline também apoiou a amiga Fabiana. A ponteira do Minas, que estava em quadra durante o incidente, postou uma mensagem em sua conta no Instagram.
Thaísa repudio racismo Fabiana Claudino vôlei (Foto: Reprodução/Facebook)Thaísa posta (Foto: Reprodução/Facebook)
"É inadmissível ver, ler ou saber, nos dias de hoje, que ainda há racismo. Que ainda existam pessoas que alimentam esse sentimento vazio, frio e inexplicável, que se mostram irracionais e intolerantes. Difícil acreditar que, na sociedade em que vivemos, alguém ainda se julgue melhor, mais capaz, mais bonito, mais interessante ou mais digno do que o semelhante porque sua cor, sua religião, sua opção sexual ou sua classe social sejam diferentes. Até quando vamos presenciar isso? Até quando vamos aturar esse tipo de comportamento? Pode ser clichê, pode parecer frase feita, mas somos todos iguais. Não é a cor da pele e nem nossas opções que determina nosso caráter,nossa conduta e nem nossa qualidade. São os atos, as atitudes. Grandeza se mostra como exemplos e ser racista é, com certeza, ser pequeno", postou Jaque.
"É triste saber q hj ainda existe esse tipo de coisa... Q ainda exista preconceito... Triste pela minha amiga @fabiclaudino ter q passar por uma situação tão absurda e desprezível como o RACISMO! E em sua Casa, em BH... Eh lamentável tal atitude! Q bom q esse ignorante q se diz "torcedor" e amante de vôlei, foi levado à delegacia... Espero tenha uma punição a altura dos insultos q lançou contra minha amiga! Essas pessoas me enojam com seu preconceito. Como minha amiga Sheillinha disse, não existe raça negra, raça branca... Existe raça HUMANA", escreveu Thaísa.
"Fiquei sabendo do que aconteceu ontem no jogo agora cedo por meio das redes sociais e não poderia deixar de me manifestar!! Primeiro quero deixar aqui minha solidariedade a @fabiclaudino que sofreu com preconceito!! Eu conheço a Fabi faz mais de 12 anos e tenho respeito não só pela jogadora, mas acima de tudo pelo ser humano maravilhoso que ela é!! Sou fã, amiga, além de ter um carinho muito grande pela família!! Acho lamentável que nos dias de hoje ainda aconteçam atos de racismo, preconceito de qualquer tipo, cor, opção sexual, enfim.... Pessoas que ainda tenham esses pensamentos, que repensem se atitudes como essa ainda são condizentes nos dias de hoje... E claro, que sejam punidas!! SOMOS TODOS IGUAIS!! Ninguém é melhor que ninguém!! FABI, tem aqui todo meu apoio e admiração!!", postou Carol Gattaz.
Confira o desabafo de Fabiana Claudino na íntegra:
"Vivenciar isso é difícil e duro!Vivenciar isso na minha terra, torna tudo pior! Ontem durante o jogo contra o Minas, um senhor disparava uma metralhadora de insultos racistas em minha direção. Era macaca quer banana, macaca joga banana, entre outras ofensas. Esse tipo de ignorância me atingiu especialmente, porque meus familiares estavam assistindo a partida. Ele foi prontamente retirado do ginásio pela direção do Minas Tênis Clube e encaminhado à delegacia. Agradeço a atitude do Minas, em não ser conivente com esse absurdo. Clube este, onde comecei a minha história e onde até hoje tenho pessoas queridas. Refleti muito sobre divulgar ou não, mas penso que falar sobre o racismo ajuda a colocar em discussão o mundo em que vivemos e queremos para nossos filhos. Eu não preciso ser respeitada por ser bicampeã olímpica ou por títulos que conquistei, isso é besteira! Eu exijo respeito por ser Fabiana Marcelino Claudino, cidadã, um ser humano. A realidade me mostra que não fui a primeira e nem serei a última a sofrer atos racistas, mas jamais poderia me omitir. Não cabe mais tolerarmos preconceitos em pleno século XXI. A esse senhor, lamento profundamente que ache que as chicotadas que nossos antepassados levaram há séculos, não serviriam hoje para que nunca mais um negro se subjugue à mão pesada de qualquer outra cor de pele. Basta de ódio! Chega de intolerância!"
Fabiana, Vôlei (Foto: Reprodução / Facebook) 
Capitã da seleção brasileira, Fabiana revela ter sofrido insultos racistas
 (Foto: Reprodução / Facebook)
Confira a nota oficial do Minas Tênis Clube:
"O Minas Tênis Clube lamenta e repudia o ato de racismo ocorrido nessa terça-feira, durante a partida contra o Sesi-SP, pela Superliga Feminina de Vôlei. O Minas é absolutamente avesso a quaisquer manifestações discriminatórias, contrárias aos princípios e valores praticados pelo Clube.Todas as medidas cabíveis foram imediatamente tomadas pela segurança do Minas, que retirou o agressor do ginásio e acionou a Polícia Militar. Minas se solidariza com a atleta Fabiana, formada nas categorias de base do Clube. Atitudes racistas como esta são frutos de atitudes isoladas e não representam o respeito que a torcida minastenista sempre demonstrou para com equipes visitantes."

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